Ola catequistas amados(as)! Postaremos notícias enviadas por nosso querido padre Luiz Alves de Lima (perito convidado) sobre o Sínodo da Nova Evangelização! Acompanhem e mantenham-se informados! Abraços e boa leitura!
SÍNODO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO
Notícias do Sínodo dos Bispos 07
- Pe. Lima
Nada a relatar hoje, 13 de Outubro, a não ser
as quatro sessões (2 pela manhã e 2 pela tarde) com 56 discursos, ao todo, dos
padres sinodais. No entanto tais discursos deverão continuar ainda na semana
que vem, durante dois dias.
Como se sabe, a língua oficial do Sínodo (como
do Vaticano, em geral) é o latim. Então, os discursos mais importantes ou
quando falam os Moderadores (são 3 que se revezam), a língua usada é sempre o
latim. O Secretário Geral, Dom Nikola Eterovic e Card. Dom Francisco Robles
Ortega (México) falam muito bem e sem tanto sotaque. Mas é uma graça ouvir os
outros dois moderadores (Card. Dom John Tong Hon, de Hong Kong e Card. Laurent
Monsengwo Pasinya) falarem a língua de Cícero com seus sotaques chinês e
africano. Houve um cardeal americano que elogiou o fato do uso oficial do
latim, mas pediu que não seja um latim tão clássico, mas um pouco mais
"eclesiástico" (e consequentemente muito mais fácil...).
Naturalmente os nomes próprios (aliás,
complicadíssimos para nós ocidentais) são mantidos na língua original. Os nomes
dos indianos, como dos países árabes e da Europa oriental, são quase
impronunciáveis! As frases em latim que mais se ouvem são: "Nunc
loquabitur Emminentissimus Cardinalis (ou Excelentissimus Episcopus) N. N., e
se preparit Episcopus N.N."
Dos 56 discursos hoje pronunciados, 40 (com 5
minutos cada um) foram lidos e o texto distribuído apenas para nós peritos que
deveremos redigir uma síntese final, e outros 16 foram espontâneos, com 4
minutos cada. O jornal Osservatore Romano está publicando uma síntese dos
discursos de 5 minutos. Essa dinâmica vem sendo observada desde o primeiro dia.
Como já acenei, é muito cansativo ficar
ouvindo discursos em cinco línguas diferentes, mas é aí que se manifesta a
riqueza e diversidade de pensamento e de experiências de todas as partes do
mundo. Sendo impossível relatar aqui uma síntese de todos os discursos, apresento
algumas ideias que foram mais recorrentes ao longo do dia, tanto nos discursos
lidos como nos espontâneos:
1) Embora o mais importante na
Evangelização seja o ato de fé, a resposta pessoal à Palavra de Deus (fides qua
ou confessio fidei), por outro lado não se pode esquecer a dimensão racional e
doutrinal (fides quae ou professio fidei), se quisermos dialogar com a cultura
de hoje.
2) O tema da família voltou
insistentemente em vários pronunciamentos, vendo nela não só o objeto, mas
sobretudo o sujeito da evangelização. Os países que vivem ou viveram clima de
perseguição testemunham que a fé é mantida principalmente na família. Espera-se
que a Igreja publique algum manual ou vade mecum das famílias cristãs em
situações canonicamente irregulares.
3) Para nós, na América Latina,
as pequenas comunidades ou comunidades eclesiais de base, são prática pastoral
desde os anos 60, tendo atingido o auge nos anos 70 a 90 e ainda permanecem
vivas. Entretanto para países da Ásia e da África, está sendo uma descoberta! E
como falam entusiasticamente desse modo de ser igreja, para nós já tão antigo!
4) Dom Odilo, arcebispo de São
Paulo, fez um pronunciamento afirmando que ao longo da história da Igreja, já
houve muitos momentos de nova evangelização, com a atuação de grandes santos e
pastores, entre os quais citou Dom Bosco. A Igreja, mais do que estrategistas
pastorais, precisa hoje de novos e santos evangelizadores que anunciem o
Evangelho com a própria vida e testemunho. Nesse sentido, Dom Filipo Santoro,
que trabalhou 27 anos no Brasil e hoje é bispo na Itália, relatou sua
experiência pastoral na atual diocese, com problemas muito semelhantes aos do
Brasil.
5) Fiquei impressionado com o
número de pronunciamentos a respeito da missão do bispo com relação à evangelização.
Um deles chegou a dizer, com certo exagero, que, se uma diocese não é
missionária, isso é culpa do bispo que não cumpre suas essenciais obrigações!
6) Muitos falaram também da
necessidade de evangelizar através da religiosidade popular, dando conteúdo
evangélico e substancial àquelas práticas que o povo aprecia e através das
quais exprime sua adesão a Jesus Cristo e a seu Evangelho. Muitas vezes ela
precisa ser re-orientada, educada para que cresça na expressão da autêntica fé.
7) A Doutrina Social da Igreja
também foi lembrada por alguns como importante meio de fazer chegar o fermento
do Evangelho à grande sociedade, às estruturas sociais e à solução de problemas
novos e antigos que sempre surgem nos grupos humanos. É necessário relembrá-la,
pois faz parte de qualquer tipo de evangelização. Sugeriu-se que toda a Igreja
ratifique e viva mais intensamente a opção preferencial pelos pobres.
8) O tema da inculturação foi
abordado não do ponto de vista teórico e intelectual, mas no relato de muitas
experiências, particularmente nos países de mais recentes cristianismo.
9) Em não poucos lugares se vive
o problema das migrações, tanto internas como para outros países. É uma
situação para a qual o Evangelho traz muitas luzes e soluções.
10) Foi muito aplaudida a
intervenção de Dom Berislav Grigc que falou da presença da Igreja nos países
nórdicos, suas dificuldades (padres que viajam 2000 km para atender uma
comunidade!), mas ao mesmo tempo dos bons frutos e crescimento da Igreja naquelas
regiões, particularmente através do catecumenato de adultos.
11) Dom Leonardo Ulrich Steiner,
Secretário da CNBB, falou da importância dos leigos na nova evangelização.
Referiu-se também aos jovens, como um novo areópago da Igreja hoje, das boas
experiências com jovens missionários de jovens principalmente através da música
e da mídia em geral.
12) Mais de três discursos
voltaram a atenção para a formação presbiteral. Para uma nova evangelização se
requer uma formação que qualifique os presbíteros a viverem como missionários
e, ao mesmo tempo, animadores de novos missionários.
13) A partir de uma sugestão do
Instrumento de Trabalho (no. 108), alguns pediram que a Igreja reconheça e
institua o ministério do catequista, para que esse trabalho tão dedicado de
muitos cristãs e cristãos, seja mais reconhecido e valorizado na comunidade
eclesial. Isso não significa "domesticá-los" e muito menos
"clericalizá-los".
14) Voltou hoje, em vários
pronunciamentos, sobretudo de bispos do Oriente Médio, da África e do Leste
Europeu, o problema da dificuldade de diálogo como o Islã e a denúncia de
discriminação dos cristãos, e muitas vezes de perseguição e martírio.
15) Finalmente dois problemas que
polarizaram as discussões livres foram:
a) a sequência dos sacramentos de
iniciação: manter a sequência atual, de caráter pastoral (batismo, eucaristia,
crisma) ou retornar à sequência da antiga tradição, de caráter mais teológico
(batismo, crisma e eucaristia)?
b) a questão da islamização do
ocidente cristão: causou grande impacto na assembleia um pequeno filme de cinco
ou sete minutos (cujo conteúdo eu já havia visto na internet, há tempo) que
mostra um problema quase que irreversível: estatisticamente, em base a dados
demográficos e migratórios, dentro de 50 anos a Europa cristã terá desaparecido
transformando-se um continente mulçumano. Se as famílias cristãs não gerarem
mais filhos e se não houver um trabalho de intensa evangelização, esse será o
destino de nossa História...
Alguns viram nisso uma "guerra de
religiões", outros duvidaram dos dados e perguntaram pelas fontes... mas
parece que a frieza dos números e estatísticas apontam nessa direção. Um motivo
a mais para intensificar uma nova evangelização.
Roma, 13 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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Notícias do Sínodo dos Bispos 06
- Pe. Lima
Hoje, solenidade de Na. Sa. Aparecida, o dia
prometia ser também diferente, e o foi. Para os espanhóis é dia de Na. Sa. do
Pilar e para todos os de fala castelhana, é dia da hispanidad em vista da
descoberta da América, por parte de Cristóvão Colombo, nesse dia. A três datas
foram lembradas em público. No Colégio Pio Brasileiro houve a tradicional Missa
e Festa de Na. Sa. Aparecida, onde, em geral, comparecem todos brasileiros
ligados à Igreja que estudam ou residem em Roma, como também outros. Mas nós,
participantes do Sínodo, não pudemos ir por causa dos trabalhos sinodais.
Das 09h30 às 12h00 houve mais uma longa sessão
de discursos, ao todo 25. Falaram personagens bastante conhecidas como o
prelado da Opus Dei (J. Echeverria), Dom G. Ravasi, do Pontifício Conselho para
a Cultura). Foi um dia também salesiano, pois falaram dois bispos nossos irmãos
de Congregação e o Reitor Mor.
Uma pensamento que já foi bastante acentuado e
que retornou hoje foi: a Nova Evangelização deve começar pela conversão dos
Bispos, dos Sacerdotes, dos Religiosos... e nessa linha se coloca a revalorização
do Sacramento da Penitência e a renovação da vida espiritual.
Bispos do Leste Europeu (ex países
comunistas), mas também de outras partes, insistiram que o guardião da fé em
muitos lugares é a família, principalmente em época de perseguição ou de "desertificação
espiritual", como afirmou ontem Bento XV. Alguns apresentaram experiências
em que toda paróquia gira em torno da Pastoral Familiar e a evangelização, ou
início de evangelização, se faz pela Pastoral da Visitação, às vezes de porta
em porta. Bispos da África, como também da América Latina, sublinharam e
defenderam muito as pequenas comunidades, com meio de sustentar a fé do nosso
povo.
Sobre elementos que caracterizam o sacerdócio
ministerial estão: seu lugar específico na Igreja, sua origem sobrenatural e
sacramental e sua ligação essencial com a Eucaristia; o celibato, por sua vez,
está ligado à identidade cristológica e possui um grande valor de testemunho.
Outro tema que nos dias passados, como hoje
também aflorou com ênfase, foi o diálogo intercultural e interreligioso. Isso
interessa muito às jovens igrejas da Ásia e África, que vivem num ambiente
hostil, por vezes de martírio, e encontram no diálogo interreligioso, como
minoria, um meio de ter espaço na sociedade e poder afirmar a própria fé. Já
fiz referência às grandes dificuldades de minorias cristãs diante do
fundamentalismo e fanatismo religioso islâmico. Alguns chegaram a dizer que nem
aqui, num ambiente extremamente seguro e fraterno, longe daqueles territórios
de perseguição, eles têm coragem de falar a verdade como ela é; temem a
represália.
Mas também o diálogo ecumênico não é fácil. Em
parte nós sentimos isso com igrejas cristãs que professam a mesma fé aqui no
ocidente. Mas, no oriente o confronte com a igreja ortodoxa é também, em muitos
casos, extremamente difícil. Um bispo da Romênia me dizia, por exemplo, que já
há ortodoxos que negam poder rezar juntos o mesmo Pai Nosso...
O Bispo Salesiano, Dom Enrique Covolo, que
esteve no Centro Unisal Pio XI (São Paulo) no mês de julho, desenvolveu o tema
da evangelização nas Escolas e Universidades. Além da secularização do ensino
básico, médio e superior, a tendência dos estados modernos é de domesticar
também as universidades católicas, submetendo-as ao rigor e controle das leis
acadêmicas, privando tais institutos da liberdade que sempre tiveram; e
denunciou o perigo que temos de, em vista de obter um título civil,
renunciarmos a currículos específicos de nossa formação católica ou mesmo à
influência do evangelho na cultura acadêmica.
O problema da linguagem na evangelização
voltou com a intervenção de dom Gianfranco Ravasi. A nova evangelização precisa
adotar os novos cânones da comunicação telemática e digital, e aprender dela a
essencialidade, a brevidade e o recurso à imagem. Elogiou a iniciativa do
"Pátio dos Gentios" promovido por Bento XVI. Fez referência ao mundo
da arte, da cultura juvenil, das ciências e da técnica. "Não devemos ter
medo de penetrar o mundo da ciência e da técnica, com o olhar sempre em Jesus
que contemplava o mundo vegetal e animal e recorria até às previsões
meteorológicas (cf Mt 16, 2-3) para anunciar o Reino de Deus".
O Pe. Pascual Chávez, Superior Geral dos
Salesianos, cuja fala já havia sido anunciada ontem, intitulou-a assim:
"Vinde e vede: a urgência de encaminhar e favorecer uma cultura vocacional
na Igreja". Chamou a atenção para a centralidade das vocações no projeto
da Nova Evangelização, pois são dois elementos inseparáveis. Mais do que
"vocação", devemos cultivar uma cultura vocacional, isto é, "um
modo de afrontar e conceber a vida como dom recebido gratuitamente de Deus para
um projeto ou uma missão conforme o seu desígnio". Nesse contexto é que se
deve propor aos jovens os diversos caminhos vocacionais: matrimônio, vida religiosa
ou consagrada, serviço sacerdotal, empenho social e eclesial, e acompanhá-los
no trabalho de discernimento e de escolha.
Pe. Pascual sugeriu que o Sínodo ajude todos
os pastores a serem verdadeiros guias espirituais para os jovens. Propôs, ao
final, quatro linhas de ação: 1. Favorecer um ambiente ou cultura em que a
vocação do jovem possa germinar e desenvolver-se; 2. Acompanhamento espiritual;
3. Intenso amor pela Igreja e 4. Educar para a oração pessoal.
Nessa grande "chuva de idéias"
durante essa primeira, muitos outros temas foram abordados e aprofundados. Há
uma sensação de que o Sínodo está um pouco disperso e genérico em sua
impostação. Mas o pessoal que tem experiência de outros Sínodos (há gente aqui
que já participou de 6....), diz que isso é normal na primeira semana. As
coisas começarão a afunilarem a partir da 2a. metade, ou seja, na metade da
próxima semana!
A grande novidade do dia foi o almoço
oferecido para todos (umas 400 pessoas!) pelo Papa Bento XVI. Na primeira parte
da grande Sala Paulo VI (aquela das audiências gerais das 4as. feiras, que
comporta milhares de fiéis) as cadeiras foram tiradas e montadas umas 50 mesas,
além da grande mesa central para o Papa e os convidados mais especiais.
Nós brasileiros (os cinco bispos e mais três participantes)
fizemos uma mesa onde, além da refeição caprichada que nos foi servida,
partilhamos muito nossos pontos de vista sobre o Sínodo, assim como a vida da
Igreja no Brasil. Na mesa do Papa, além de cardeais, estavam dois ilustres
visitantes que já haviam falado para os padre sinodais: o patriarca ortodoxo de
Constantinopla, sua Beatitude Bartolomeu I e o Arcebispo Anglicano de
Cantuária, sua Graça R. D. Williams. Como curiosidade, foi um banquete de 6
talheres e 4 taças. Naturalmente o tom das conversas estavam bem mais alto no
final, do que no início...
O dia foi concluído com a palestra de 45
minutos de um prêmio Nobel de Medicina em 1978 (Microbiologia), Prof. Werner
Arber, da University of Basel (Suíça) e Presidente da Pontifícia Academia de Ciências
da Santa Sé. É o primeiro não católico a ocupar esse cargo (ele é protestante).
Assim intitulou sua palestra em inglês: "Contemplation on the Relations
between Science na Faith". Em linguagem mais técnica do que teológica,
como é próprio do tema, ele apresentou as relações entre ciência e fé,
acentuando a compatibilidade entre o conhecimento científico e o conteúdo
essencial da fé. Seguiu-se um pequeno diálogo entre o ilustre palestrante e a
Assembleia.
Roma, 12 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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Notícias do Sínodo dos Bispos 05
- Pe. Lima
Há 50 anos inaugurava-se o Concílio Vaticano
II. Todos participantes do Sínodo fomos para a soleníssima Missa presidida por
Bento XVI em ação de graças por esse magno acontecimento. A ele se uniu também
a celebração dos 20 anos do Catecismo da Igreja Católica e, sobretudo, a
abertura do Ano da Fé. A grandeza, beleza e solenidade da liturgia este à
altura desses acontecimentos.
Mais uma vez essas grande cerimônias foram
realizadas na Praça São Pedro, debaixo de um sol escaldante e na presença de
uma multidão de fieis (maioria religiosos) que acompanhou piedosamente. Como na
celebração de abertura, destacavam-se os bispos e padres dos ritos católicos orientais
com suas vestes esplendentes, o coral da capela sistina (foi cantada a Missa de
Angelis e muita polifonia). Além dos 250 bispos que participam do Sínodo,
concelebravam também os presidentes das conferências episcopais dos vários
países. Estiveram presentes, mas não concelebrando, pois não são católicos, Sua
Santidade Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla, Ortodoxo, e Sua Graça
Rowan D. Williams, Arcebispo de Cantuária, Anglicano, que ontem discursou na
Aula Sinodal. Também estavam alguns dos 38 bispos ainda vivos, que participaram
do Vaticano II, inclusive o Papa.
Deu-se grande destaque ao livro da Palavra de
Deus, que estava ao lado e na frente do altar, num riquíssimo ambão, que tinha
sobre si o mesmo Evangeliário usado há 50 anos atrás. Bento XVI começou sua
homilia dizendo: "hoje, com grande alegria, 50 anos depois da abertura do
Concílio Vaticano II, damos início ao Ano da fé". E continuou: "O
Concílio Vaticano II não quis colocar a fé como tema de um documento
específico. No entanto, o Concílio esteve inteiramente animado pela consciência
e pelo desejo de ter que, por assim dizer, imergir mais uma vez no mistério
cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem
contemporâneo". Evocou em seguida a figura do Bem-Aventurado João XXIII,
suas intuições ao convocar o Concílio e suas finalidades. Referiu-se ao
"avanço de uma desertificação espiritual desses últimos decênios".
Mas é precisamente a partir dessa experiência de deserto, deste vazio, que
podemos redescobrir a alegria de crer e sua importância para nós.
Após a oração final, o Papa foi saudado pelo
Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, que se referiu aos esforços feitos
em vista do ecumenismo a partir do Vaticano II aos nossos dias. Também houve
leitura de trechos da Mensagem do Concílio ao Povo de Deus: governantes,
pensadores e cientistas, artistas, mulheres, trabalhadores, pobres, doentes,
todos que sofrem e jovens. Representantes dessas várias categorias subiam até o
Papa e recebiam o texto integral da Mensagem, distribuída também a alguns da
assembleia.
À tarde deste dia, cinquentenário do Concílio,
houve a 6a. Congregação Geral do Sínodo, começando pela eleição do grupo que
irá redigir a Mensagem Final do Sínodo. A eleição foi por continentes. Em
seguida, ouvimos mais 15 discursos, de 5 minutos cada, de oradores inscritos;
seguiram-se debate livre e restrito a intervenções de 4 minutos. Várias
experiências de nova evangelização foram apresentadas, assim como sugestões,
como, por exemplo, evangelizar o Direito Civil (supõe-se que o Direito Canônico
esteja evangelizado, brincou o orador), uma vez que a base do Direito hoje não
é a pessoa humana, mas interpretações subjetivas e ideológicas, como é o caso
do matrimônio gay.
O dia terminou com uma fiacolata, isto é, uma
procissão de velas acessas, na Praça de São Pedro, recordando aquela que há 50
anos foi feita no mesmo lugar, em vista do início do Vaticano II. Ao final,
como há 50 anos, também Bento XVI apareceu na janela de seu apartamento, saudou
a multidão que o aclamava aos gritos, com é próprio dessas ocasiões. Fez
pequeno discurso evocando esses acontecimentos e a figura de João XXIII. Disse
que estava nessa praça naquele dia. Falou que o Concílio foi um grande dom de
Deus, um novo Pentecostes. Hoje, como há 50 anos, ele suscitou uma imensa
alegria. Hoje, porém, tal alegria é mais modesta, mais humilde... porque o
pecado original existe e arma ciladas continuamente à Igreja (falou dos
escândalos, divisões, abandono da fé de muitos...), mas também o Concílio renovou
a Igreja, particularmente na Liturgia, no esforço Ecumênico, no aggiornamento
como dizia João XXIII. Terminou com a bênção e despedida.
Foi um dia de grandes celebrações e carregado
de emoções. Recordei-me também que, nesse dia, em 1962, eu era estudante de
filosofia em Lorena, e nos reunimos uns 200 seminaristas no Santuário de
Aparecida, num Encontro de Seminaristas do Vale (ESVA), para celebrar a
abertura do Concílio. O clima era de extremo otimismo e de grande esperança no
futuro. Passaram-se 50 anos e hoje, só posso agradecer a Deus, que me deu a
graça de viver não só o Concílio Vaticano II durante a segunda fase de minha
formação, mas sobretudo o Pós-Concílio que gerou grandes renovações, mas ao
mesmo tempo crises impressionantes que, nem sempre bem resolvidas, deixaram
rastros negativos.
Tal esperança agora renasce e se fortifica,
celebrando aqui em Roma esse cinquentenário e ao mesmo tempo participando do
Sínodo sobre a Nova Evangelização. E como toda minha vida foi e ainda está
sendo dedicada à catequese, ao lado dessas comemorações tão importantes, tenho
a graça de celebrar também os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica, um dos
grandes frutos do Vaticano II.
Roma, 11 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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Notícias do Sínodo dos Bispos 04
- Pe. Lima
Hoje, 10 de Outubro, o dia foi um pouco
diferente dos dias anteriores. De fato, logo de manhã em vez de nos dirigir
para a grande sala do Plenário do Sínodo, que aqui é chamada de Aula Sinodale,
fomos para salas menores, no mesmo ambiente do enorme edifício Paulo VI.
Conforme programado, todos os quase 400 participantes fomos divididos em
grandes grupos, chamados Circuli Minori, usando como critério de divisão, as
cinco línguas oficiais. Assim, eu fui designado para assessorar o Circulus
Hispanicus A (havia um B e um C); portanto três grandes grupos de língua
espanhola. Preferi esse grupo, ao dos italianos, por estar mais perto da
América Latina. Nele somos cerca de 30, bastante exprimidos numa sala um tanto
acanhada prá tanta gente. Nesse grupo está também o espanhol Francisco (Kiko)
Argüello, fundador do neo-catecumenato!
Nesse grupo, a grande maioria era dos países
da América Latina, mas havia também espanhóis, portugueses, timorenses e
angolanos (esses últimos falam português). A primeira coisa a ser feita foi a
eleição do Moderador (aquele que coordena) e saiu eleito o Arcebispo Carlos
Aguiar Retes, Presidente da Conferência Episcopal Mexicana, e Relator: o
Arcebispo de Valladolid (Espanha), D. Ricardo Blázquez Peres. Dom Odilo (que
está nesse grupo, junto com Dom Geraldo Lyrio) recebeu vários votos, mas não o
suficiente para ser eleito.
Após essas formalidades, e mesmo depois do
intervalo, houve um amplo espaço, que ocupou toda manhã, para um debate sobre o
tema do Sínodo, particularmente sobre o Instrumento de Trabalho. A discussão
ficou um pouco polarizada em torno do conceito de Nova Evangelização. De fato,
não há uma compreensão única sobre tal expressão. O mesmo Bem-aventurado João
Paulo II que a criou, entendeu-a de diversas maneiras ao longo de seu
pontificado.
O que em geral foi rejeitado por todos é que
tal expressão signifique toda a pastoral da Igreja... ou seja: cada um entende
como quer, colocando tudo quanto é assunto debaixo desse guarda-chuva e...
enfim, tudo fica como antes, sem mudar nada... Seria uma maneira de fugir do
problema e seus desafios. De aí também evitar que se crie mais um slogan que
todo mundo repete, mas sem nenhum conteúdo.
Alguns veem a Nova Evangelização como uma
proposta para enfrentar a descristianização de antigas cristandades, como é o
caso dramático da Europa. Outros, como uma espécie de diálogo para encarar o
mundo hostil contra a presença pública da Igreja na Sociedade (o que acontece
até na ONU...). Não poucos a veem como projeto da Igreja para recuperar o
prestígio perdido pelo desaparecimento da cristandade...
Muitos identificam a Nova Evangelização com o
projeto que nasce dos documentos de Aparecida de uma Igreja missionária, que
busca gerar e formar discípulos missionários. Outros sugeriram que se busquem
as razões pelas quais estamos falando agora de Nova Evangelização. Uma
intervenção sugeriu que se aprofundassem os fundamentos antropológicos,
teológicos, eclesiológicos e bíblicos dessa proposta da Igreja... pois ela não
pode continuar dando respostas para perguntas que ninguém faz... quais seriam
mesmo as questões às quais a Nova Evangelização quer responder?
Nesse último sentido, alguns, entre eles Dom
Odilo, criticaram a falta de um status questionis ou seja, uma espécie de ver a
realidade concreta, esclarecer por que estamos aqui falando desse assunto?
(falou da nossa prática latino-americana de, sempre, partir da realidade). O
que nos leva a nos preocupar com uma Nova Evangelização? Bispos de países de
recentíssima evangelização, como o Timor-Leste, afirmaram: "Nós nem ainda
acabamos de realizar uma verdadeira evangelização entre o nosso povo, e por que
já temos que pensar numa nova? Que novidade é essa, com relação com o que já
estamos a duras penas fazendo?
Houve quem defendesse a ideia de que Jesus
Cristo e seu Evangelho são sempre novos, sempre trazem uma novidade para a
humanidade, seja em que tempo for... precisaríamos explorar mais a etimologia
da palavra Evangelho, evangelização. Por outro lado, uma Nova Evangelização
requer novos evangelizadores... mas assim falando corremos o perigo de
desvalorizar os milhões de cristãos que atualmente dão a vida pela Igreja
trabalhando com projetos de pastoral tradicionais... não seria melhor falar de
evangelizadores renovados?
Para enfrentar os desafios da evangelização do
mundo moderno técnico-científico, é necessário muita formação... sem tal
preparação intelectual acurada dos evangelizadores, eles não nos ouvirão... Dom
Geraldo Lyrio acentuou a dimensão comunitário-eclesial, para se evitar
individualismos, ou compreensões de Jesus e de seu Evangelho, muito conforme a
imagem e semelhança de cada um... ou de cada igreja...
Muitos chamaram a atenção para a coerência de
vida, para o testemunho, para o aprofundamento da fé pessoal de cada cristão;
isso mesmo já se torna o primeiro passo para uma Nova Evangelização. A maioria
dos que se afastam da Igreja não é por motivo dogmático ou de rigidez de
disciplina... mas por questões de relações humanas, falta de acolhimento, de
atualização de certas coisas que seriam tão fácil mudar.... Alguém sugeriu até
fazer um "inventário" da Igreja para ver em que falhamos.... por que
as pessoas se afastam?
Muito apreciada foi a intervenção de Dom
Cláudio Celli, encarregado da Comunicação da Igreja, apresentando algumas
inquietações: não dar a idéia da Igreja como uma grande empresa que está
perdendo vendas e faz então um novo esforço para aumentá-las. Há gente que vê a
Igreja como atingida por um tutsunami e agora se põe a pensar como reconstruir-se...
em que medida realmente estamos buscando o Reino de Deus? Ou será outra coisa
que muito bispo, padre ou religioso está buscando? Outra inquietude: o
Instrumento de Trabalho não tocou o problema da Comunicação! Não se trata de
ter grandes recursos midiáticos, potentes meios de comunicação... trata-se da
linguagem, da cultura (cultura midiática!)... Estamos tratando com pessoas que
já possuem outra linguagem, outra cultura... ao passo que nossa linguagem e
cultura continuam as mesmas... infelizmente.
Sem dúvida, muitos intervieram falando de vida
transformada, da conversão contínua ao Evangelho, do agente principal da Nova
Evangelização que é o Espírito Santo, da importância do encontro com a pessoa
de Jesus, da necessidade de reforçar o ato de fé mais do que compreensões
doutrinais (embora elas também sejam necessárias...), de nós mesmos sermos
evangelizados, da opção pelos pobres, etc.
Como se vê, Nova Evangelização não é um
conceito unívoco, mas equívoco... e ainda não há clareza do que, precisamente,
tal expressão quer dizer no conjunto de toda a vida da Igreja, particularmente
após o Vaticano II, cujo 50 anos amanhã vamos celebrar...
Na parte da tarde, houve mais de 15 discursos,
na mesma modalidade de ontem (cinco minutos para cada um) e se falou muita
coisa interessante. Espero que os textos, em geral em castelhano, continuem no
site já indicado:
http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog - Aqui
destaco apenas as intervenções de dois brasileiros: Dom Sérgio Rocha, Arcebispo
de Brasília, falou do ministério do catequista, dando importância ao maior
reconhecimento do trabalho de nossos abnegados catequistas, inclusive
proporcionando, em toda a Igreja, aquilo que no Brasil já se faz: que seja um
ministério reconhecido, sem muita burocratização, nem querendo transformar os
catequistas em clérigos ou dependentes de uma missio canonica por demais
jurídica, o que se transformaria, por parte da hierarquia, em controle e
domesticação de um carisma que, por ser de natureza prevalentemente leiga, goza
de suficiente autonomia para seu exercício.
Sua intervenção, a meu ver bastante inspirada,
se intitulou: "Sujeitos da transmissão da fé: os catequistas". Assim
ele concluiu: "o conferimento de tal ministério não deverá comportar uma clericalização
ou elitização dos fieis leigos, conservando sempre o seu caráter de serviço
eclesial. Como também não deverá ser entendido como um ministério em
substituição ou contraposição ao ministério ordenado, pois, sendo um autêntico
serviço eclesial, ele deverá ser concebido e vivido em comunhão. Enfim, o
reconhecimento e a configuração do "ministério de catequista" poderá
representar um grande sustento e estímulo para aqueles que assumem com generosa
dedicação o serviço da catequese. Ajudará os fieis a reconhecerem melhor o seu
serviço e exigirá um renovado empenho na formação integral dos catequistas.
Bom, ainda teríamos que falar de um dos pontos
altos do dia que foi a apresentação e discurso, diante do Papa, do Anglicano R.
Douglas Willians, arcebispo de Cantuária e primaz da Inglaterra... que foi
muito interessante. Mas iria muito longe, e já passei do limite, por hoje.
Amanhã, tratando das celebrações dos cinquenta
anos do Concílio Vaticano II e da Abertura do Ano da fé, terei oportunidade de voltar
a esse assunto.
Roma, 10 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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Notícias do Sínodo dos Bispos 03
- Pe. Lima
QUASE 50 DISCURSOS NUM DIA...
Conforme a programação do Sínodo, este
terceiro e parte do quarto dia são destinados aos comentários a respeito do
documento Instrumento de Trabalho. De fato, a finalidade deste texto, é
recolher toda a discussão feita anteriormente, através de consulta às
Conferências Episcopais, e levantar alguns problemas relacionados ao tema
central.
Foi o que aconteceu hoje quando, cerca de
cinquenta oradores (cardeais, arcebispos e bispos) se inscreveram para comentar
algum aspecto do Instrumento de Trabalho. Cada um tinha cinco minutos para
falar, usando uma das 5 línguas oficiais, e todos, na Assembléia, acompanhavam
com o texto do pronunciamento em mãos e tradução simultânea, para quem
desejasse. Cada orador tinha apenas 5 minutos para falar, após os quais o microfone
era desligado...
Ficar ouvindo tantos oradores e em cinco
línguas diferentes, é um trabalho muito cansativo. Mas o próprio Regulamento do
Sínodo assim se expressa: "pode parecer enfadonho ter que escutar em
vários dias tantos discursos. Mas, na realidade, trata-se de uma escuta muito
útil para alimentar a colaboração e a amizade entre todos, para obter, da
variedade de falas, os elementos comuns, os problemas mais importantes e as
questões que mais preocupam os responsáveis pela Evangelização em todo o mundo.
O trabalho em comum exige paciência" (Art. 38 d).
Antes de começar o debate, houve a constatação
da presença, uma espécie de "chamada", mas num sistema eletrônico
super prático e rápido. Constatou-se que estavam presentes 255 "Padres
Sinodais". Nesse número não estão os outros mais de 150 participantes
considerados peritos ou secretários, os ouvintes, os convidados especiais e
todo o pessoal auxiliar e técnico.
Um dos primeiros a falar foi o Card. Rino
Fisichella, presidente da Congregação para a Nova Evangelização, recentemente
fundada pelo Papa Bento XVI. Ele denunciou o modo de viver de muitos católicos
que não expressam a novidade do Evangelho, às vezes um modo burocratizado de
viver a fé e os sacramentos; "muitas comunidades parecem cansadas,
repetindo fórmulas sem sentido que não comunicam a alegria do encontro com
Cristo e estão em dúvida a respeito do caminho cristão a ser percorrido...
Devemos redescobrir a força do anúncio de Cristo Ressuscitado do qual somos
testemunhas, sem deixar-nos sufocar pelas estruturas".
Houve uma variedade de propostas: muitos
insistiram no valor da humildade, para que o anúncio do Evangelho seja eficaz:
"nova evangelização exige nova humildade"; outro falou da importância
do Espírito Santo na obra evangelizadora e propôs consagrar o mundo o mundo a
Ele no final do Ano da Fé. Houve quem chamou a família de "fronteira
decisiva da Nova Evangelização", ou reduziu a evangelização quase como uma
formação permanente... Outro chamou a atenção para a "emergência educativa",
afirmando: "não podemos evangelizar se não educamos e não educamos se não
evangelizamos".
Alguns apresentaram experiências eficazes de
evangelização, como o acompanhamento espiritual das mães grávidas, também como
preparação para o futuro batismo da criança, a distribuição abundante da
Bíblia, ou partes dela, a êxito da pastoral da entronização da Bíblia nas casas
dos fiéis e posterior acompanhamento, a riqueza da Leitura Orante da Palavra de
Deus, etc.
Seguindo uma tendência em várias partes da
Igreja, um orador pediu que a Igreja Romana seguisse o exemplo da Igreja
Oriental Católica, que celebra o sacramento do Batismo juntamente com a
Confirmação, deixando a Eucaristia para o ápice e a conclusão do processo de
iniciação à cristã, numa idade bem mais avançada (após os 15 anos), quando a/o
jovem está mais apto/a para receber tão grande Sacramento.
O tema da iniciação à vida cristã e
necessidade do primeiro anúncio foi muito defendida por um bispo mexicano, que
já foi o encarregado da catequese na América Latina. Entre os convidados para o
Sínodo está o fundador das Escolas de Santo André, de grande êxito no México e
em outras parte da América Latina, inclusive no Brasil. Tal escola se dedica a
formar novos evangelizadores, preocupando-se sobretudo com o primeiro anúncio.
Outros assuntos tratados, entre tantos, foram:
a centralidade da Pessoa de Jesus Cristo na Evangelização e o encontro pessoal
com Ele, a força evangelizadora da devoção a Nossa Senhora, e, em geral, da
religiosidade popular, as necessidades antropológicas às quais a Evangelização
deve responder, a necessidade de dinamizar a vida das Paróquias, a urgência de
renovar a formação presbiteral para termos bons evangelizadores na Igreja.
Acentuou-se também a necessidade, para aqueles que anunciam a Palavra de Deus,
de fazerem ressoar na própria vida a Palavra que pregam aos outros,
particularmente os religiosos e sacerdotes: primeiro viver a Palavra, para
depois pregá-la.
Entre os oradores, apresentou-se um
representante da Federação Luterano Mundial, elogiando essa iniciativa do
Sínodo em se debruçar sobre o tema da nova evangelização e afirmando o grande
valor do Catecismo da Igreja Católica que, segundo ele, se aproxima muito
daquele de Lutero... Outro visitante ou convidado fraterno foi o presidente da
Sociedade Bíblica Internacional que muito se alegrou com a Verbum Domini
(documento do Sínodo anterior sobre a Palavra de Deus). Entre esses convidados
fraternos está também o representante das célebres Comunidades de Taizé, de raiz
luterana, mas muito próximos da Igreja Católica e que atraem muitos jovens.
O último discurso do dia foi do Card. Ouelet,
que durante 35 minutos falou da recepção e dos efeitos que tiveram em toda a
Igreja a exortação apostólica sobre a Verbum Domini do Sínodo anterior. Mostrou
que a nova evangelização tem como primeiro instrumento a Palavra de Deus vivida
pelos cristãos que devem dar testemunho dela na própria vida e também a própria
Palavra de Deus nas Escrituras. O tema da nova evangelização é uma consequência
lógica do tema da Palavra de Deus.
O dia terminou com um pré-lançamento de um
grande filme-documentário sobre o Concílio Vaticano II com imagens inéditas de
cinquenta anos atrás, que foi muito aplaudido pelos participantes do Sínodo.
Tal filme, a ser lançado oficialmente no dia 11 de Outubro, em que se celebram
os 50 anos do Concílio, será muito útil para aqueles que não têm nenhum
conhecimento, ou conhecimento apenas teórico, desse que foi o maior evento da
Igreja Católica no século XX, e talvez, de toda a bimilenar história da Igreja.
Os quase 50 discursos acima acenados
encontram-se na internet, no mesmo endereço que ontem aqui deixei:
http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog
Roma, 09 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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Notícias do Sínodo dos Bispos 02
- Pe. Lima
PRIMEIRA E SEGUNDA SESSÕES
Hoje, 08 de Outubro, pela manhã
realizaram-se as 2 primeiras sessões. Teve início com a récita da Hora Média
(Tercia), cujo hino foi substituído pelo Veni Creator Spiritus, cantado em
gregoriano pela Assembleia, acompanhado por coral a 4 vozes. Pode parecer
estranho, mas é o único momento de oração em comum durante o Sínodo, pois a
Missa e demais orações (laudes e vésperas) são rezadas nas casas onde cada um
se hospeda. A Santa Eucaristia foi concelebrada por todos participantes do
Sínodo somente ontem na Abertura; uma outra será no dia 11 comemorando os 50
anos do Concílio Vaticano II e os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica, e
uma última no encerramento. Também as refeições, exceto o cafezinho
(abundantíssimo...) da manhã e da tarde, são feitas também nas residências de
cada um.
Após a leitura breve da Tercia,
Bento XVI, que preside as sessões, fez uma bela homilia, falando ex abundantia
cordis, ou seja, improvisamente e sem nenhum texto em mãos. Durante 15 minutos
falou do significado da palavra evangelização e evangelizar na cultura antiga e
no Novo Testamento, e principalmente em São Lucas que anunciando o nascimento
de Jesus, descreve-o como o nascimento do verdadeiro imperador que vem trazer
uma Boa Nova de Salvação, de Redenção; é a presença de Deus no hoje de nossa
vida.
Para ilustrar como essa Boa Nova
pode ser anunciada aos homens de hoje, recorreu ao hino da hora tercia
"Nunc, sancte, nobis, Spiritus, unum Patri cum Filio....". A Igreja
não começou com uma reunião, concílio ou sínodo... mas com Pentecostes, com a
ação do Espírito Santo, e não haverá Nova Evangelização sem um novo Pentecostes.
Deus continua falando aos homens hoje, e nós somos apenas colaboradores: é uma
ação teândrica (de Deus e dos homens). A segunda estrofe desse hino fala em
confissão da fé e não simples profissão de fé. A confissão de fé implica nosso
envolvimento, nosso testemunho, disponibilidade. Ela deve estar, como diz o
hino, em nossa boca, língua, mente, sentidos, vigor... ou seja, a fé deve ser
confessada na vida plenamente: além do coração, deve passar também pela mente,
ser iluminada pela inteligência (mens.... teologia). Os santos padres diziam
que a fé, a Palavra de Deus pode ser saboreada até pelos sentidos (sensus,
vigor).
A outra coluna da evangelização é
o amor (cáritas)... o hino fala de fogo, paixão. O próprio Jesus disse que veio
trazer fogo à terra: a fé é chama de amor que acende todo nosso ser para
comunicá-la aos outros. A realidade e o símbolo do fogo aparecem em todas as
culturas. Lucas fala do fogo de Pentecostes: é o Espírito que aquece e faz
entender todas as coisas. Ao final o hino de tercia pede que esse fogo do
Espírito que arde em nossa fé torne-se visível ao mundo... Não haverá
evangelização sem esse fogo do Espírito que arde no coração de cada
evangelizador.
Houve, a seguir, uma saudação ao
Papa pelo Presidente Delegado do dia, Card. John Tong Hon, Bispo de Hong Kong
(China) que falou em latim. Aliás, todas as grandes conferências desse dia
foram em latim (sempre com tradução simultânea), e isso foi criticado por muita
gente, pois pouquíssimos, mesmo na cúpula da Igreja, estão habituados a essa
língua oficial da Igreja, fora das orações tradicionais... O cardeal chinês
relatou experiências de nova evangelização em Hong Kong, a partir das três
categorias do Novo Testamento: didaqué, koinonia e diakonia.´
Seguiu-se a primeira relação
(primeira grande conferência), pelo Secretário Geral do Sínodo, Dom Nicola
Etérovic. Em primeiro lugar, apresentou os números oficiais dos participantes
do Sínodo: 182 padres sinodais, dos quais 172 eleitos pelas Conferências
Episcopais e 10 pela União dos Superiores Gerais. Dos outros, 40 foram eleitos
pelo Papa, 37 participam ex officio (possuem cargos na Cúria Romana) e 3 designados
pelas Igrejas Católicas Orientais. De todos esses, 6 são patriarcas, 49
cardeais, 3 arcebispos maiores, 71 arcebispos, 120 bispos e 14 sacerdotes.
Fazem parte também do Sínodo: 20 delegados fraternos representantes de igrejas
e comunidades eclesiais que partilham conosco, católicos, as preocupações pela
Evangelização. Compõem ainda o Sínodo: 45 especialistas e consultores, 49
ouvintes (mulheres e homens) e um inúmero batalhão de assistentes, técnicos,
tradutores e colaboradores da Secretaria Geral. A seguir, falou das atividades
da Secretaria Geral, principalmente na preparação dessa XIII Assembleia
(redação dos Lineamenta e do Instrumento de Trabalho).
Na segunda parte da manhã, o
Relator Geral do Sínodo, Card. Donald William Wuerl, arcebispo de Washington,
apresenta a Relação antes das discussões, ilustrando o tema do Sínodo.
Desenvolve esses pontos: 1) O quê e Quem proclamamos: a Palavra de Deus; 2)
Recursos recentes para ajudar-nos nessa tarefa; 3) Circunstâncias especiais do
nosso tempo que justificam esse Sínodo; 4) Elementos da Nova Evangelização; 5)
Fundamentos Teológicos da Nova Evangelização; 6) Qualidades dos novos Evangelizadores e 7) Carismas da Igreja hoje
requeridos no exercício da Nova Evangelização.
Após o almoço, foi feita uma reunião
com os secretários e distribuidos os trabalhos que cada um deve fazer; a mim
foi confiado o tema do "ministério da catequese e sua possível
institucionalização na Igreja", tema que o Instrumento de Trabalho pede
para ser discutido no Sínodo. Na parte da tarde, cinco palestrantes, durante 10
ou 15 minutos, usando uma das cinco línguas oficiais (italiano, francês,
espanhol, alemão e inglês) falaram da situação da evangelização em cada um dos
cinco continentes.
Chamou a atenção a palestra do
Card. Péter Erdö sobre a Europa: relevou a "perda da memória da herança
cristã" nesse continente, com a consequente descristianização galopante,
seguida de hostilidade e de violência contra os cristãos em quase todos os
países! Referiu-se aos "direitos humanos de terceira e quarta geração...
que já não possuem laços com a visão humana e cristã do mundo nem com a
moralidade objetiva expressa nas categorias do direito natural". Por outro
lado, tal situação de crise religiosa unida à crise econômica e ao envelhecimento
da população, faz surgir uma "fome e sede de esperança" às quais o
cristianismo pode dar grandes respostas.
Pelo Continente Americano falou o
Arcebispo Dom Carlos Aguiar Retes (Chile), desenvolvendo esses temas: 1) O
grande desafio: mudança de época e ruptura cultural; 2) Nova Evangelização
exige comunhão eclesial; 3) Um caminho incipiente e cheio de esperança na
América após o Concílio (de Medellín a Aparecida); 4) Os protagonistas da Nova
Evangelização (destaque para os leigos e a família); 5) Pontos cardeais da Nova
Evangelização: conversão pastoral e mudança de mentalidade, vivência litúrgica
e pastoral orgânica de participação e comunhão. Conclui dando relevância ao
Catecismo da Igreja Católica e Compêndio da Doutrina Social da Igreja, à vida
de discípulos e aos programas e processos de formação cristã, sobretudo
catequese, através de caminhos mistagógicos.
A última hora do dia foi
reservada a intervenções livres. Sobressaíram os representantes do Oriente
Médio e da África falando do sofrimento dos cristãos nessas regiões, sobretudo
devido ao fundamentalismo e fanatismo islâmico hostil ao cristianismo, o que
não poucas vezes gera martírio. O Cardeal de São Paulo, Dom Odilo, falou da
experiência de fé dos católicos de São Paulo em celebrar a procissão de Corpus
Christi mesmo num dos dias mais frios do ano e debaixo de intermitente chuva.
Tal ato de fé do Povo de Deus reforça também a fé dos pastores; de fato, ele
havia pensado em cancelar a procissão, mas devido à maciça presença dos fiéis,
foi mantida e realizada conforme a programação.
Os que atenderam a impressa,
relaram o grande interesse da mídia, ao menos no início, pelo Sínodo. Não só,
mas uma pergunta insistente, era: "como a Igreja reage diante de uma
sociedade cada vez mais secularizada e o que fará para reverter esse quadro, o
que a Igreja irá fazer para responder à sede de valores que muitos hoje
demonstram, o que fará para dar resposta aos problemas humanos, aos jovens
desorientados; quais são as soluções para reconciliar populações inimigas para
evitar a guerra, quais são os grandes projetos em favor da paz...". Ou
seja: parece que os próprios jornalistas estavam traçando a pauta do Sínodo.
Sob esse ponto de vista, a conference press foi um sucesso!
A oração do Angelus entoada pelo
Papa, que participou o tempo todo, sempre atento e tomando notas, e o canto do
Salve Regina concluíram esse dia de intenso trabalho sinodal.
Apesar das recomendações sobre o
segredo a respeito do que se trata no Sínodo, quase todo o material aqui
veiculado, em poucas horas podem ser encontrados na Internet. Assim, quem
estiver interessado, poderá acessar o site a seguir, onde encontrará todos os
textos em castelhano, com fotos dos palestrantes e muitas outras informações:
http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog
Roma, 08 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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