SÍNODO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO
Notícias do Sínodo dos Bispos 09
- Pe. Lima
Ao iniciar os trabalhos de hoje, Dom Tarcísio
Bertone, sdb, Secretário de Estado, comunicou que o Papa Bento XVI nomeou uma
delegação de padres sinodais para ir em nome desse Sínodo da Igreja Católica
até à Síria, país mergulhado numa guerra civil sem fim, e levar solidariedade,
auxílio econômico e propostas para a cessação das hostilidades nas quais já
morreu muita gente, principalmente civis. A proposta foi acolhida pela
Assembleia com uma grande salva de palmas. Todos admiraram a coragem e
determinação do Papa ao tomar tal decisão!
A respeito do polêmico filme projetado ontem,
esclareceu-se que tinha a finalidade de chamar a atenção para a diminuição das
famílias no ocidente cristão, sem nenhuma conotação religiosa e suscitar um
debate a respeito do sacramento do matrimônio que a nova evangelização deve
levar muito em conta.
Também o Card. D. Wifrid Fox Napier, Arcebispo
de Durban (África do Sul) perguntou em público o que era essa tal de Aparecida
que os latino-americanos citam tanto. Porque não citam o Sínodo das Américas
(Ecclesia in America) que foi o documento papal sobre esse continente? Nós da
América Latina achamos estranho, mas, afinal de contas, não podemos saber de
tudo! D. Carlos Aguiar Retes (México), Presidente do CELAM esclareceu o que são
e como surgiram as Conferências do Episcopado Latino-Americano, como o Sínodo
das Américas foi de todas as Américas (incluindo, pois, EUA e Canadá) e que o
CELAM é um outro organismo, congregando apenas países da América Latina e
Caribe, que possuem uma certa unidade cultural-religiosa (diferente dos EUA e
Canadá) e, mais ainda, como Aparecida foi realizada 10 anos após o Sínodo das
Américas e que, portanto, tratou de assuntos muito mais atuais. No entanto
garantiu que na relação que fez logo no início da Conferência de Aparecida
sobre a situação da fé no continente, ele que redigiu tal relatório, usou
bastante o documento de João Paulo II Ecclesia in America.
Por falar em Aparecida tenho a sensação de que
esse grande acontecimento da nossa Igreja Latino-Americana dos inícios do
milênio, de certa forma já abordou e tomou decisões pastorais, em escala
continental, a respeito dos mesmos temas que o Sínodo de Roma agora está
abordando em escala mundial e, portanto, mais complexos. Nesse sentido, nossa
Igreja Continental já deu passos significativos em direção dessa Nova
Evangelização desde 2007; o Sínodo virá certamente reforçar algumas opções já
feitas por nós e indicará novas perspectivas de ação, também pela autoridade
maior que tem, com relação à Aparecida.
Hoje, como ontem, foi um dia de discursos e
debates, talvez os últimos. Falaram aqueles padres sinodais inscritos e que
ainda não tiveram oportunidade de falar, e principalmente um grupo dos chamados
"delegados fraternos", ou seja, representantes de outras igrejas
cristãs que, fraternalmente, foram convidados a partilhar conosco as mesmas
preocupações diante do desafio da Evangelização no mundo de hoje.
Dom Launay Saturné, de Haiti, fez um sentido
agradecimento a toda Igreja pela ajuda recebida por ocasião do grande terremoto
que quase destruiu todo o país. Hoje, já em parte reconstruído, a Igreja se
empenha em reedificar também espiritualmente toda a nação, tão sofrida e
provada.
D. Claudio M. Celli, presidente do Pontifício
Conselho para as Comunicações Sociais, disse que uma das novidades do anúncio
evangélico hoje são as novas mídias. A arena digital é uma realidade na vida
das pessoas, sobretudo no ocidente e entre os jovens. Não podemos considerá-la
um espaço virtual menos importante que o espaço real. De certa maneira a Igreja
já possui uma presença no espaço digital, e o próximo desafio é a mudança do
estilo comunicativo para tornar essa presença eficaz. Devemos aprender a
apresentar o evangelho numa linguagem midiática, e não usar a mesma linguagem
que usamos na cultura gutemberiana. Se de um lado a mudança técnica é
relativamente fácil e visível, muito mais desafiador é mergulhar na cultura
midiática e através dela propor a mensagem de Jesus.
Dentre os auditores (ouvintes) falou o sr.
José Prado Flores (México), fundador e presidente mundial das "Escolas de
Evangelização San Andres". Partindo do texto evangélico que fala da perda
de Jesus no Templo, ele afirmou que muitas vezes, na nossa pastoral,
"perdemos Jesus", ou seja: ficamos preocupados com tantas coisas,
como doutrina, moral, teologia, direito, devoções...e esquecemos o centro e o
início de tudo, que é o encontro pessoal com Jesus Cristo, ponto de partida e
fundamento de tudo o resto. Daí a importância do primeiro anúncio, do querigma.
Essas "escolas de evangelização" são um movimento leigo dedicado
justamente ao primeiro anúncio e ao querigma. Suas escolas, presentes em muitos
países, também no Brasil, preparam evangelizadores para atuarem em todos os
campos da sociedade.
Na parte da tarde, o Papa fez questão de estar
presente na primeira parte, pois foi quando falaram "os delegados
fraternos". Ele quis prestigiar, apoiar e ouvir esses nossos irmãos de
outras igrejas. Entre os sete que falaram estava o Metropolita Hilarion
Alfeyev, do patriarcado de Moscou, a bispa Sarah F. Davis, do Conselho Mundial
Metodista, o Rev. Dr. Timothy George, da Federação Mundial Batista, o bispo
Steven Croft, anglicano, o bispo Span Siluan, da Igreja Ortodoxa Romena e o
frater Alois, Prior da Comunidade Ecumênica de Taizé. Todos eles agradeceram
muito a honra de terem sido convidados para um evento tão importante da Igreja
Católica e aprofundaram o tema do ecumenismo.
No momento da palavra livre Dom Odilo falou da
necessidade de aprofundar a antropologia cristã, diante de tantas concepções
errôneas a respeito da natureza humana, e mostrar claramente, como ensina o
Vaticano II, que Jesus revela o homem ao homem. Solicitou também que na
Mensagem final seja dita uma palavra de encorajamento de nosso povo na fé, que
às vezes sente-se fraco e desanimado diante de tantos ataques que a Igreja vem
recebendo ultimamente, ou dos escândalos internos da mesma Igreja.
Um bispo da África do Sul questionou por que
as mulheres são as que mais frequentam a Igreja Católica e os homens vivem
afastados... em outras religiões, disse, são os homens que mais participam e
atuam nas próprias Igrejas...
Ao concluir o dia o Secretário Geral, Dom
Nikola Eterovic, agradeceu o trabalho dos peritos ou consultores na elaboração
da Relação sobre as discussões havidas até hoje e que será apresentada amanhã.
Ao mesmo tempo comunicou que já estão à disposição os textos para a celebração
eucarística da missa intitulada: "pela nova evangelização", com
tradução inclusive em português.
Roma, 16 de Outubro de 2012
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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