SÍNODO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO
EXTRA -Notícias do Sínodo dos Bispos 20 - Pe. Lima
APROVADA E PUBLICADA A MENSAGEM DO SÍNODO
Uma afirmação lapidar abre a reportagem do Ossevatore Romano
O
jornal oficioso do Vaticano, em sua edição diária em italiano, publica em
primeira página hoje, a manchete: O Evangelho no mundo, e traz já o texto
integral da Mensagem do Sínodo ao Povo de Deus aprovada ontem de manhã. Na
verdade essa edição já estava impressa ontem à tarde e começou a ser
distribuída à noitinha.
Se está
no Osservatore Romano (edição diária), quer dizer que certamente já está na
Internet. O que chama mais a atenção, e aqui me dirijo especialmente ao Prof.
Francisco Catão, do Instituto Pio XI (São Paulo) que tanto ensina e insiste
nessa ideia, é a abertura da reportagem, citando a primeira frase da Mensagem,
que já adiantei na Síntese da mesma enviada dias atrás: "O Sínodo, diz o
jornal, lança um projeto concreto para a nova evangelização, com uma afirmação
lapidar (punto fermo): «A fé se decide no relacionamento que instauramos com a
pessoa de Jesus», e para testemunhá-lo é necessário estar lado a lado na vida
das pessoas hoje, sem «inventar, quem sabe, que tipo de novas estratégias»
porque o Evangelho não é «um produto a ser colocado no mercado das
religiões»".
E
prossegue: "Trata-se de um documento novo, conforme o Card. Betori [...]
Novo pois «não se limita a exortações globais, mas se articula em temas que se
relacionam a cada continente, expressa e especificamente citados em ordem
alfabética»".
Mais na
frente diz: "Na mensagem os bispos apresentaram junto experiências e
propostas surgidas na Assembleia, afrontando questões desafiadoras (scottanti).
Sem ceder ao pessimismo e convidando ao confronto, em campo aberto, o Sínodo
propôs como fio condutor da mensagem, o encontro de Jesus com a Samaritana. Com
a experiência do Sínodo, também «a Igreja quer estar ao lado de homens e
mulheres do nosso tempo para tornar Deus presente em suas vidas».
E
conclui a reportagem, antes de apresentar integralmente o texto da Mensagem:
"Enfim, trata-se de "possibilitar experiências de Igreja, multiplicar os
poços acessíveis a homens e mulheres sedentos e facilitar-lhes o encontro com
Jesus, oferecer oásis nos desertos da vida". Mas a missão de evangelizar o
mundo começa pela Igreja com um apelo à conversão. A começar dela mesma".
Agora, nesta manhã de sábado, faremos a penúltima
Sessão, com a leitura da segunda parte das proposições e sua aprovação por
parte dos padres sinodais. Nessa ocasião, os textos entregues aos bispos são
recolhidos, pois neles está o voto de cada um (placet e non placet). E aí se
encerra o trabalho dos Sínodo. As 58 proposições ainda passarão pela Cúria
Romana e só então serão publicadas, como vem acontecendo no pontificado de
Bento XVI, pois até João Paulo II elas eram mantidas em segredo e entregues ao
Papa para que, juntamente com a comissão eleita pelo Sínodo, ele escrevesse a
Exortação Apostólica referente ao tema.
Roma, 27 de Outubro de 2012, Sábado.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.
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Notícias do Sínodo dos Bispos 19 - Pe. Lima
RUMO À CONCLUSÃO DO SÍNODO
Segunda Redação das PROPOSITIONES e Testemunhos
Os antigos diziam: Motus in fine velocior - o movimento no
final é mais veloz. É o que acontece também no Sínodo. No final as coisas se
precipitam. Hoje foi um dia intenso durante o qual desanuviaram-se alguns
receios e temores, dando lugar a um pouco mais de esperança de que houve
progresso em alguns pontos e não regresso, como até ontem parecia.
Dom Giuseppe Betori, arcebispo de Florença, iniciou pela
manhã a apresentação da 2a. redação da Mensagem, por ser seu relator. Disse que
foram mais de 300 sugestões apresentadas. Dada a aprovação maciça da primeira
redação, agora foram integradas as observações que não alteravam a estrutura e
o conteúdo essencial. Foram eliminadas as repetições e alguma retórica (na
verdade, esse trabalho eu já havia feito na síntese que enviei nas crônicas 13,
14 e 15). Assim sendo, o texto propriamente ficou muito semelhante àquele já
enviado.
Algumas observações: o trecho sobre as comunicações sociais
(estava no no. 4 e foi para o no. 10) ficou mais ampliado. O no. 6 foi
completamente reformulado acentuando mais o fenômeno da secularização e dando
maior importância ao fenômeno da presença do estado na vida moderna (hegemonia
estatal), com os desafios de aí advindos para a evangelização. O no. 7 dedicado
à família teve acréscimos, porém a expressão "comunhão eclesial... que não
é negada aos casais de segunda união", foi mudada por: "continuam
sendo membros da Igreja, embora não possam receber a absolvição sacramental nem
a Eucaristia". Os no.s 8 (religiosidade popular) e 9 (jovens) foram
ampliados. As maiores modificações foram no longo no. 10 (o Evangelho em diálogo
com a cultura e a experiência humana e as religiões), no no. 13 (Igrejas
Orientais Católicas). Sobre os continentes: no texto sobre a África foi mais
bem aproveitada a imagem da família; América Latina: separou-se o tema
"pluralismo religioso" do tema "violência"; Ásia:
acrescentou-se que aí encontra-se a Terra Santa; Europa: ao invés de dizer
"continente ferido durante decênios pelo poder comunista" preferiu-se
falar em "decênios de poder de ideologias inimigas de Deus e do
homem".
A leitura da nova redação da Mensagem foi distribuída nas 5
línguas oficiais; como o português não é língua oficial, mas para dar
importância ao Brasil, foi pedido a Dom Sérgio Rocha, arcebispo de Brasília,
para ler o texto referente à América Latina; seu castelhano estava excelente...
Um novo e longo aplauso foi interpretado como aprovação
integral da Assembleia à nova redação. Essa segunda leitura do texto inteiro da
Mensagem permitiu apreciar melhor sua beleza e oportunidade, embora ainda
permaneça um pouco longo... Mas creio que vale a pena: é um texto que manifesta
as grandes linhas de reflexão desenvolvidas durante o Sínodo.
Já o texto das proposições, continua a ser guardado a sete
chaves. Como informei, sua primeira aparição foi apenas em inglês e num latim
bastante clássico e difícil; mas, pelo menos, todos os participantes tinham o
texto impresso. Hoje não: apenas os bispos (ou seja, aqueles que votam)
receberam o texto unicamente em latim. E foi-nos chamada a atenção sobre o que
está escrito na primeira e segunda capas: sub secreto, texto sob segredo,
reservadíssimo. O Secretário Geral, Dom Eterovic, reclamou que conteúdos
substanciais foram parar em blogs na internet... Daí também porque, em crônicas
anteriores, não desci a detalhes, mas apresentei apenas os 57 títulos.
A segunda versão de hoje trazia 58 Proposições (conforme
informou o Relator; não sei qual proposição foi acrescentada, pois não tive
acesso ao texto!). Foram lidas as primeiras 34: uma leitura meio monótona, com
o carregado sotaque americano do Relator Principal e o sotaque francês do
Secretário Especial... Houve momentos em que os roncos de alguns dorminhocos se
fizeram ouvir... acompanhar a leitura de um texto em latim, sem tê-lo na
frente, e também sem os conhecimentos das clássicas construções latinas... não
há quem resista! Deve-se reconhecer, entretanto, que Dom Donald W. Wuerl e Dom
Pierre-Marie Carré fizeram o trabalho hercúleo de preparar, no espaço de um dia
e meio, quando muito, a integração de 529 propostas de modificações
apresentadas pelos 12 grupos. Um dos que ouviam atentamente, e até fazendo
observações escritas no texto, sem pestanejar, era Bento XVI, para quem,
naturalmente, o latim é tão familiar quanto o alemão!
Por sorte eu havia trazido a primeira versão, apresentada
três dias atrás, e pude acompanhar, percebendo e anotando as várias alterações,
supressões, acréscimos que foram introduzidos, e, graças a Deus, sempre para
melhor! Foram poucas as proposições que não foram retocadas. Quando se chegou
ao no. 29, aquele que falava unicamente do catecismo sem nomear a catequese nem
os catequistas, tive que me conter para não manifestar minha surpresa e
alegria. O texto foi totalmente remodelado, acrescentando uma frase sobre a
catequese e outra sobre os catequistas, bastante significativa, que eu havia
apresentado em meu grupo (através de Dom Odilo, como disse ontem) e que
certamente recebeu a pressão de vários outros grupos. Mas minha surpresa não
parou aí; veio embutida também uma citação do documento Ministeria Quaedam de
Paulo VI sobre a reforma dos ministérios ordenados, dando uma pequena abertura
para a instituição do ministério da catequese!
Vários membros de meu grupo, inclusive o bispo relator, Dom
Renato Blázquez Pérez, vieram me manifestar a satisfação por verem nossa
proposta aceita. Foi uma verdadeira vitória: a catequese, dentro do quadro
geral da Nova Evangelização, estava suficientemente salva. Diante dessa
vitória, nem dei importância à outra proposta que havia feito sobre a alteração
da ordem de apresentação dos assuntos e que não foi aceita. Continua, pois,
valendo a observação da Ir. Beatriz Casiello (SCALA): "Me llama la
atención la falta de orden de la 3ra.parte". Procurei corrigir, mas… não
deu!
No final da leitura dos 32 números, Dom Nikola Eterovic
pediu aos bispos que levassem o texto para completarem individualmente a
leitura e já assinalarem nos respectivos lugares, o próprio voto: Placet
(positivo), Non Placet (negativo).
O dia foi completado pelos 16 discursos (ainda!) de ouvintes
que pediram a palavra e não puderam falar até hoje. O primeiro a falar foi o
Patriarca Ortodoxo da Sérvia, Dr. Irinej, Bispo de Backa. Falou muito bem,
denunciando o ritualismo e formalismo da catequese na Igreja Ortodoxa; falou de
"cadáveres espirituais" dentro da Igreja e que "a Nova Evangelização
se faz necessária primeiramente dentro da própria Igreja". Falou também a
sucessora da Bv. Madre Tereza de Calcutá, Ir. Mary Prema Pierick, sobre a NE
junto aos pobres. Chamou a atenção vários testemunhos de vida cristã dados por
leigos e leigas principalmente em países de pouca tradição cristã, ou que vivem
situações difíceis, como em Cuba ou em países mulçumanos. Dois participantes do
Movimento Focolari falaram da própria forma de evangelizar entre os excluídos e
marginalizados da sociedade nesses ambientes.
A Superiora Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, madre
Ivone Reungoat, falou da dimensão evangelizadora da vida religiosa: "não
devemos ser somente crentes, mas críveis". Acentuou também o caráter
pedagógico da evangelização e a "necessária mediação cultural e educativa
capaz de entrar nos cenários do mundo contemporâneo para oferecer aos jovens e
aos mais pobres propostas de crescimento humano e cristão". O Dr. Simón
Castellví, presidente da Federação Internacional das Associações Médicas Católicas,
denunciou as tramas abortistas da fundação Bill Gates e fez a proposta de um
"plano Marshall a favor da maternidade" e defendeu uma maior
"atenção obstétrica básica" às mães pobres. E iríamos longe, se
fossemos retratar a riqueza e variedade desses últimos pronunciamentos do
Sínodo, embora não vão influenciar em nada os dois documentos já prontos, a
Mensagem e as Propositiones.
Amanhã teremos as duas últimas sessões, com aprovação formal
das 58 proposições, e no domingo, a solene conclusão com a grande concelebração
eucarística na Basílica São Pedro, presidida pelo Papa Bento XVI.
Roma, 26 de Outubro de 2012, Quinta feira.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.
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