quinta-feira, 25 de outubro de 2012


SÍNODO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO

Notícias do Sínodo dos Bispos 17 - Pe. Lima
 DISCUTINDO AS PROPOSIÇÕES
Trabalho nos Círculos Menores (Grupos)

 Hoje não ouve plenário. Todo o dia foi dedicado à discussão das 57 proposições nos 12 círculos menores, também chamados grupos linguísticos, pois nos reunimos por línguas que previamente havíamos escolhidos. Como já disse, fui como assessor no grupo Hispanicus A, bastante numeroso. A maioria era da América Latina (do Brasil estávamos Dom Odilo, Dom Geraldo Lírio e eu), alguns europeus (espanhóis) e outros de países africanos que falam português (Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe...).

 Continuou a reclamação da falta de uma tradução em língua mais compreensível já que dispomos apenas do inglês, traduzido para o latim extremamente clássico e difícil. Frequentemente era necessário recorrer ao inglês para entender o latim e vice versa: às a tradução latina expressava melhor a ideia do que o original inglês, ou a ideia estava melhor expressa em inglês que o latim. Eu mesmo tive a oportunidade de corrigir um título que trocava Ministerium por ministrum...

 As normas dadas para as discussões nos grupos linguísticos eram bastante rígidas. Não podíamos fazer propostas individuais por escrito; qualquer proposta deveria ser discutida e aprovada por maioria relativa, caso contrário não era aceita. As sugestões seriam apenas para "aperfeiçoar" os textos, sem mexer em seu sentido substancial nem na estrutura. Deveriam se restringir a mudar palavras, fazer citações e fazer pequenos acréscimos para melhorar a ideia já expressa. Como se vê, a redação das 57 proposições apresentadas nessa brochura intitulada "Elechus unicus propositionum" já vinha quase como pronta. O relator do grupo deveria tomar nota de tudo e levar para a reunião dos 12 relatores dos grupos amanhã, junto com a presidência, para elaborarem a redação final.

 Apesar de tantas restrições, o nosso grupo trabalhou a tarde de ontem, e nos dois períodos de hoje, manhã e tarde. Foi uma discussão bastante boa. Aparecia, como já havia sido notado, alguma diferença de experiências e mentalidades entre latino-americanos e africanos, e os europeus (espanhóis). Quando eu apresentei a proposta de trocar o título do no. 29 de "Catecismo" para "Catequese, catequistas e Catecismo", o mundo veio abaixo... protesto geral, pois o que o Sínodo queria era acentuar o valor do Catecismo da Igreja Católica e urgir o seu uso na catequese. Argumentei sobre a prevalência da fides qua (resposta pessoal, adesão à pessoa de Jesus) sobre a fides quae (conteúdo, doutrina), mas fui voto vencido. E o pior é que, em todo o Elenco das 57 proposições, não se fala da catequese em si explicitamente, nem dos catequistas. Alguém disse que o texto já falava dos leigos em geral, e isso bastava... imaginem!

 A questão do ministério dos catequistas definitivamente não passou, pelo menos no meu grupo. E no Plenário também eu já havia sentido uma resistência a essa ideia... Soube, por outras vias, que no neo-catecumenato os catequistas às vezes passam por cima da autoridade do padre e querem extrapolar seus limites. Daí o medo de alguns em reforçar tal realidade se por acaso a catequese fosse reconhecida como ministério...

 A todo momento eu dizia que determinado assunto estava fora de lugar... aliás, comentando minha crônica de ontem, alguns já me fizeram essa observação, através de e-mails, particularmente no cap. III. Então o Moderador (coordenador do grupo) pediu que eu fizesse, ao final, uma proposta e apresentasse no final da tarde por escrito uma nova disposição dos 15 números. Foi o que fiz, redistribuindo a matéria da seguinte ordem: 01 Liturgia; 02 Paróquias e outras realidades eclesiais; 03 Iniciação Cristã e NE; 04 Sacramento da Confirmação e a NE; 05 Catequese com Adultos; 06 Catecismo; 07 Sacramento da Penitência e NE; 08 Domingos e Festas; 09 Teologia; 10 Educação; 11A dimensão contemplativa da NE; 12 NE e opção pelos pobres; 13 Peregrinações e NE; 14 Enfermos; 15 Pontifício Conselho para promover a NE.

 A proposta foi aprovada. E também aproveitei para pedir a mudança do título 06 Catecismo, por Catequese, Catequistas e Catecismo. Como disse, em nenhum lugar se fala dos catequistas nem da catequese explicitamente. Com o apoio de Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, (a palavra de um cardeal pesa muito), conseguimos acrescentar nesse mesmo número, um parágrafo sobre o catequista, através de uma citação do Instrumento de Trabalho e modificando o título desse no. 6 para: Catequistas e Catecismo... O texto poderia ser muito mais aperfeiçoado, mas foi o que conseguimos. O trecho acrescentado foi:

 "Os catequistas são testemunhas diretas e evangelizadores insubstituíveis que representam a força basilar das comunidades cristãs. Têm necessidade que a Igreja reflita com maior profundidade sobre a sua missão, dando-lhes maior estabilidade, visibilidade ministerial e formação" (Instrumentum Laboris 108).

 Outros temas bastante discutidos e com modificações aceitas e integradas no texto foram: as relações entre fé e ciência, um pedido para a Santa Sé que dê orientações mais claras e precisas sobre a situação de casais de segunda união ou canonicamente irregulares, inspirando-se na tradição da Igreja Ortodoxa e de outras igrejas cristãs; o texto sobre as comunicações foi muito mais ampliado, não ficando apenas no uso instrumental, mas entrando dentro da cultura midiática gerada ultimamente; deu-se maior importância às universidades e escolas católicas. O texto sobre a Liturgia foi muito mais ampliado e completado, graças à rica contribuição de Dom Geraldo Lírio, arcebispo de Mariana (MG).

 Sobre a ordem e sequência dos sacramentos da iniciação para os batizados na infância (batismo, crisma, eucaristia, ou eucaristia e crisma) o texto saiu pela tangente, citando novamente a Sacramentum Caritatis e remetendo o problema para as dioceses e conferências episcopais.

 Os trabalhos dos grupos terminaram um pouco mais cedo, de modo que todos puderam retornar antes do horário previsto, para suas residências, menos os 12 relatores dos círculos menores, que se reunirão com a equipe encarregada de unificar as preposições. Eles passarão amanhã todo o dia reunidos e trabalhando na segunda redação das Proposições para apresentá-las na sexta feira, quando haverá uma votação. Os outros, ganharemos um dia mais de vacat, ou seja de tempo livre durante toda a quinta feira.

 Ontem ouve a votação definitiva para a composição do Conselho do Sínodo, que irá ajudar o Papa a redigir a exortação apostólica sobre a Nova Evangelização, objeto de nossas reflexões e, depois, preparar o próximo Sínodo (2016 ou 2017). Foram 15 eleitos, três por continente. Para o continente americano foram eleitos: Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo (Brasil), Dom Santiago Jaime Silva Retamales, Bispo Auxiliar de Valparaiso (Chile) e Secretário Geral do CELAM e o Card. Timothy Michael Dolan, Arcebispo de New York (EUA).

Roma, 24 de Outubro de 2012, Quarta feira.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.
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Notícias do Sínodo dos Bispos 16 - Pe. Lima
PRIMEIRA REDAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES
O longo elenco das 57 grandes afirmações do Sínodo
 
Antes da abertura dos trabalhos desta manhã, foi lida a mensagem em latim que a presidência do Sínodo enviou a Dom Lucas Ly Jingfeng, Bispo de Fengxiang (China) em resposta à carta que ele mesmo enviara, também em latim. Ele foi prisioneiro durante 20 anos por sua fidelidade à Igreja.

O Card. Tarcísio Bertone, salesiano, Secretário de Estado, anunciou algumas modificações concernentes à Delegação nomeada pelo Papa para levar solidariedade à Síria, em nome do Sínodo. Estão ainda preparando a viagem que, por ter caráter diplomático e político e sendo realizada num país longo conflito interno, torna-se mais difícil. Foi aberta uma conta no Banco do Vaticano, para que todos os participantes do Sínodo contribuam para a ajuda financeira àquele país em guerra.

Foi comunicado que o Papa dará um belo presente a cada padre sinodal: uma cruz peitoral representando o Bom Pastor; embora tomada da cultura pagão, uma das imagens mais frequentes na arte das catacumbas é a do bom pastor. Na cruz está esculpido Cristo, como bom pastor que carrega amorosamente uma ovelha sobre os ombros: significa o cuidado pastoral que o Bispo deve ter com relação a seu rebanho. Cada cruz foi produzida artesanalmente, em prata de lei, pelos mestres ourives de Roma Claudio e Pedro Saví.

O trabalho desta manhã foi todo dedicado à leitura, num latim bastante clássico, das 57 Proposições. A brochura impressa foi entregue a todos os participantes do Sínodo. Ele contém o texto das 57 proposições em latim, com uma tradução em inglês. Muitos reclamaram, pois o latim é por demais difícil e a maioria não entende inglês. Foi explicado que se oferece somente a tradução em inglês, pois seu autor principal, o Relator Geral, é americano. Significa que o latim foi a tradução do inglês... Uma observação inicial diz: "sub secreto" (ainda sob sigilo).

Após a oração da hora média (Tércia), estando presente o Santo Padre, o Relator Geral do Sínodo Dom Donald William Wuerl, arcebispo de Washington, juntamente com o Secretário Especial, D. Pierre Marie Carré, Arcebispo de Montepellier, leram durante mais de duas horas o Elenco único das proposições. São 57 grandes blocos, em geral de meia página, contendo 3 ou 4 parágrafos cada uma, sobre um determinado tema.

Esse é o documento principal do Sínodo, síntese das discussões desses dias, onde são expressas as grandes ideias, as preocupações, reflexões e principalmente as propostas que o Sínodo faz em torno do tema central. É preciso ter presente que elas são dirigidas a toda a Igreja, e não somente à Europa, ou América Latina, com seus problemas específicos. Elas procuram atender a todos os desafios tal como são sentidos por seus pastores presentes no Sínodo.

Como eu disse ontem, durante o domingo e a segunda feira os relatores dos grupos linguísticos, juntamente com outros dirigentes do Sínodo, fizeram uma síntese daquilo que havia sido proposto pelos Círculos Menores, e em seguida, traduzido para o latim. As mais de 300 proposições foram unificadas por temas e sintetizadas no texto que agora se apresenta. É a primeira redação, pois elas ainda retornarão para os Círculos Menores que farão ainda ajustes (mas não grandes modificações) e, finalmente, serão votadas em Plenário.

À tarde nos reunimos nos grupos linguísticos (circuli minores) para fazer pequenas observações ao texto. Conforme as orientações, a essa altura não se pode mais mexer na estrutura do texto. As propostas poderão ser apenas para "pulir" o texto, palavras ou pequenas expressões que possam ajudar a aperfeiçoar o texto. Muitos viram nisso uma camisa de força, que quase tranca o texto no estágio atual; já não há mais possibilidades de grandes modificações. Outra dificuldade foi a compreensão do texto: o latim é por demais clássico e difícil, e há muita gente que não entende inglês, ou tem apenas uma compreensão superficial... Até parece que tudo contribui para que não se mexa no texto!

Ele está assim construído: após a introdução, com 3 proposições, o texto é dividido nas quatro capítulos, os mesmos que desde a Relação após as discussões, está marcando os rumos dos trabalhos sinodais. São eles: a natureza da NE (9 proposições), o contexto sociocultural onde o ministério da Igreja (13 proposições) , as respostas pastorais a essa situação (15 proposições), os agentes e atores da NE (16 proposições). A conclusão (1 proposição) encerra o conjunto de 57 proposições.

A primeira coisa que observei é que fala muito do catecismo (há um número especial para isso) e não se fala nada da pessoa do catequista, dos catequistas... Por outro lado, dá relevo à catequese com adultos... Mas, isso, só como observação inicial.

Apresento aqui apenas o índice, ou seja, o título de cada uma das 57 proposições:
Introdução: 1. Documentos a serem enviados ao Papa; 2. Agradecimentos do Sínodo. 3. A contribuição das Igrejas Católicas Orientais para a NE.

Capítulo I: A Natureza da Nova Evangelização
 4. A Santíssima Trindade, fonte da Nova Evangelização
5. O coração da Nova Evangelização
6. A proclamação do Evangelho
7. Nova Evangelização como aspecto da missão permanente da Igreja\
8. Testemunhas num mundo secularizado
9. A Nova Evangelização e o Primeiro Anúncio
10. O direito de ouvir o Evangelho
11. A Nova Evangelização e a leitura orante da Sagrada Escritura
12. Os documentos do Concílio Vaticano II

Cap. II: O contexto do Ministério da Igreja hoje
 13. As provocações do secularismo
14. O ministério da Reconciliação na Igreja e a Nova Evangelização
15. A Nova Evangelização e os direitos humanos
16. A liberdade religiosa
17. Os preâmbulos da fé e a teologia da credibilidade
18. A Nova Evangelização e as comunicações sociais
19. A Nova Evangelização e a promoção humana
20. A Nova Evangelização e a via da beleza
21. As migrações
22. A conversão
23. A santidade e os novos evangelizadores
24. A doutrina Social da Igreja
25. Cenários urbanos da Nova Evangelização

Capítulo III - As respostas pastorais para as circunstâncias de hoje
 26. As Paróquias e outros contextos sociais
27. A educação
28. A catequese de adultos
29. O catecismo
30. A Teologia
31. A Nova Evangelização e a opção pelos pobres
32. Os enfermos
33. O Sacramento da Penitência e a Nova Evangelização
34. O domingo e dias festivos
35. A Liturgia
36. A dimensão contemplativa da Nova Evangelização
37. O Sacramento da Confirmação na Nova Evangelização
38. A Iniciação Cristã e a Nova Evangelização
39. As peregrinações e a Nova Evangelização
40. O Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização

Capítulo IV - Agentes e participantes da Nova Evangelização
 41. A Nova Evangelização e a Igreja Particular
42. A Diocese e a pastoral orgânica
43. Os dons hierárquicos e carismáticos
44. A Nova Evangelização na Paróquia
45. O papel dos fieis leigos na Nova Evangelização
46. As mulheres na Igreja
47. A formação dos Evangelizadores
48. A família cristã
49. A dimensão pastoral do ministério pastoral
50. A vida consagrada
51. Os jovens e a Nova Evangelização
52. O diálogo Ecumênico
53. O diálogo inter-religioso
54. O diálogo entre ciência e fé
55. O átrio dos gentios
56. O meio ambiente

Conclusão: 57. Na escola de Maria.
  
Roma, 23 de Outubro de 2012, Terça feira.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

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