segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ola catequistas amados(as)! Postaremos notícias enviadas por nosso querido padre Luiz Alves de Lima (perito convidado) sobre o Sínodo da Nova Evangelização! Acompanhem e mantenham-se informados! Abraços e  boa leitura!

SÍNODO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO

Notícias do Sínodo dos Bispos 07 - Pe. Lima
 MAIS 56 DISCURSOS!  UMA ESCUTA ATENTA

 Nada a relatar hoje, 13 de Outubro, a não ser as quatro sessões (2 pela manhã e 2 pela tarde) com 56 discursos, ao todo, dos padres sinodais. No entanto tais discursos deverão continuar ainda na semana que vem, durante dois dias.

  Além dos avisos corriqueiros, foi anunciado o resultado da eleição de 12 cardeais, arcebispos para a redação da Mensagem do Sínodo (um documento dirigido a toda a Igreja no final dessa Assembleia). O Arcebispo de Brasília, Dom Sérgio Rocha, está entre os eleitos.

 Como se sabe, a língua oficial do Sínodo (como do Vaticano, em geral) é o latim. Então, os discursos mais importantes ou quando falam os Moderadores (são 3 que se revezam), a língua usada é sempre o latim. O Secretário Geral, Dom Nikola Eterovic e Card. Dom Francisco Robles Ortega (México) falam muito bem e sem tanto sotaque. Mas é uma graça ouvir os outros dois moderadores (Card. Dom John Tong Hon, de Hong Kong e Card. Laurent Monsengwo Pasinya) falarem a língua de Cícero com seus sotaques chinês e africano. Houve um cardeal americano que elogiou o fato do uso oficial do latim, mas pediu que não seja um latim tão clássico, mas um pouco mais "eclesiástico" (e consequentemente muito mais fácil...).

 Naturalmente os nomes próprios (aliás, complicadíssimos para nós ocidentais) são mantidos na língua original. Os nomes dos indianos, como dos países árabes e da Europa oriental, são quase impronunciáveis! As frases em latim que mais se ouvem são: "Nunc loquabitur Emminentissimus Cardinalis (ou Excelentissimus Episcopus) N. N., e se preparit Episcopus N.N."

 Dos 56 discursos hoje pronunciados, 40 (com 5 minutos cada um) foram lidos e o texto distribuído apenas para nós peritos que deveremos redigir uma síntese final, e outros 16 foram espontâneos, com 4 minutos cada. O jornal Osservatore Romano está publicando uma síntese dos discursos de 5 minutos. Essa dinâmica vem sendo observada desde o primeiro dia.

 Como já acenei, é muito cansativo ficar ouvindo discursos em cinco línguas diferentes, mas é aí que se manifesta a riqueza e diversidade de pensamento e de experiências de todas as partes do mundo. Sendo impossível relatar aqui uma síntese de todos os discursos, apresento algumas ideias que foram mais recorrentes ao longo do dia, tanto nos discursos lidos como nos espontâneos:

1) Embora o mais importante na Evangelização seja o ato de fé, a resposta pessoal à Palavra de Deus (fides qua ou confessio fidei), por outro lado não se pode esquecer a dimensão racional e doutrinal (fides quae ou professio fidei), se quisermos dialogar com a cultura de hoje.

2) O tema da família voltou insistentemente em vários pronunciamentos, vendo nela não só o objeto, mas sobretudo o sujeito da evangelização. Os países que vivem ou viveram clima de perseguição testemunham que a fé é mantida principalmente na família. Espera-se que a Igreja publique algum manual ou vade mecum das famílias cristãs em situações canonicamente irregulares.

3) Para nós, na América Latina, as pequenas comunidades ou comunidades eclesiais de base, são prática pastoral desde os anos 60, tendo atingido o auge nos anos 70 a 90 e ainda permanecem vivas. Entretanto para países da Ásia e da África, está sendo uma descoberta! E como falam entusiasticamente desse modo de ser igreja, para nós já tão antigo!
  
4) Dom Odilo, arcebispo de São Paulo, fez um pronunciamento afirmando que ao longo da história da Igreja, já houve muitos momentos de nova evangelização, com a atuação de grandes santos e pastores, entre os quais citou Dom Bosco. A Igreja, mais do que estrategistas pastorais, precisa hoje de novos e santos evangelizadores que anunciem o Evangelho com a própria vida e testemunho. Nesse sentido, Dom Filipo Santoro, que trabalhou 27 anos no Brasil e hoje é bispo na Itália, relatou sua experiência pastoral na atual diocese, com problemas muito semelhantes aos do Brasil.

5) Fiquei impressionado com o número de pronunciamentos a respeito da missão do bispo com relação à evangelização. Um deles chegou a dizer, com certo exagero, que, se uma diocese não é missionária, isso é culpa do bispo que não cumpre suas essenciais obrigações!

6) Muitos falaram também da necessidade de evangelizar através da religiosidade popular, dando conteúdo evangélico e substancial àquelas práticas que o povo aprecia e através das quais exprime sua adesão a Jesus Cristo e a seu Evangelho. Muitas vezes ela precisa ser re-orientada, educada para que cresça na expressão da autêntica fé.

7) A Doutrina Social da Igreja também foi lembrada por alguns como importante meio de fazer chegar o fermento do Evangelho à grande sociedade, às estruturas sociais e à solução de problemas novos e antigos que sempre surgem nos grupos humanos. É necessário relembrá-la, pois faz parte de qualquer tipo de evangelização. Sugeriu-se que toda a Igreja ratifique e viva mais intensamente a opção preferencial pelos pobres.

8) O tema da inculturação foi abordado não do ponto de vista teórico e intelectual, mas no relato de muitas experiências, particularmente nos países de mais recentes cristianismo.
9) Em não poucos lugares se vive o problema das migrações, tanto internas como para outros países. É uma situação para a qual o Evangelho traz muitas luzes e soluções.

10) Foi muito aplaudida a intervenção de Dom Berislav Grigc que falou da presença da Igreja nos países nórdicos, suas dificuldades (padres que viajam 2000 km para atender uma comunidade!), mas ao mesmo tempo dos bons frutos e crescimento da Igreja naquelas regiões, particularmente através do catecumenato de adultos.

11) Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário da CNBB, falou da importância dos leigos na nova evangelização. Referiu-se também aos jovens, como um novo areópago da Igreja hoje, das boas experiências com jovens missionários de jovens principalmente através da música e da mídia em geral.

12) Mais de três discursos voltaram a atenção para a formação presbiteral. Para uma nova evangelização se requer uma formação que qualifique os presbíteros a viverem como missionários e, ao mesmo tempo, animadores de novos missionários.

13) A partir de uma sugestão do Instrumento de Trabalho (no. 108), alguns pediram que a Igreja reconheça e institua o ministério do catequista, para que esse trabalho tão dedicado de muitos cristãs e cristãos, seja mais reconhecido e valorizado na comunidade eclesial. Isso não significa "domesticá-los" e muito menos "clericalizá-los".

14) Voltou hoje, em vários pronunciamentos, sobretudo de bispos do Oriente Médio, da África e do Leste Europeu, o problema da dificuldade de diálogo como o Islã e a denúncia de discriminação dos cristãos, e muitas vezes de perseguição e martírio.

15) Finalmente dois problemas que polarizaram as discussões livres foram:
a) a sequência dos sacramentos de iniciação: manter a sequência atual, de caráter pastoral (batismo, eucaristia, crisma) ou retornar à sequência da antiga tradição, de caráter mais teológico (batismo, crisma e eucaristia)?

b) a questão da islamização do ocidente cristão: causou grande impacto na assembleia um pequeno filme de cinco ou sete minutos (cujo conteúdo eu já havia visto na internet, há tempo) que mostra um problema quase que irreversível: estatisticamente, em base a dados demográficos e migratórios, dentro de 50 anos a Europa cristã terá desaparecido transformando-se um continente mulçumano. Se as famílias cristãs não gerarem mais filhos e se não houver um trabalho de intensa evangelização, esse será o destino de nossa História...

 Alguns viram nisso uma "guerra de religiões", outros duvidaram dos dados e perguntaram pelas fontes... mas parece que a frieza dos números e estatísticas apontam nessa direção. Um motivo a mais para intensificar uma nova evangelização.

Roma, 13 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

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Notícias do Sínodo dos Bispos 06 - Pe. Lima
 HOJE FALOU O SUPERIOR GERAL DOS SALESIANOS
  
 Hoje, solenidade de Na. Sa. Aparecida, o dia prometia ser também diferente, e o foi. Para os espanhóis é dia de Na. Sa. do Pilar e para todos os de fala castelhana, é dia da hispanidad em vista da descoberta da América, por parte de Cristóvão Colombo, nesse dia. A três datas foram lembradas em público. No Colégio Pio Brasileiro houve a tradicional Missa e Festa de Na. Sa. Aparecida, onde, em geral, comparecem todos brasileiros ligados à Igreja que estudam ou residem em Roma, como também outros. Mas nós, participantes do Sínodo, não pudemos ir por causa dos trabalhos sinodais.

 Das 09h30 às 12h00 houve mais uma longa sessão de discursos, ao todo 25. Falaram personagens bastante conhecidas como o prelado da Opus Dei (J. Echeverria), Dom G. Ravasi, do Pontifício Conselho para a Cultura). Foi um dia também salesiano, pois falaram dois bispos nossos irmãos de Congregação e o Reitor Mor.

 Uma pensamento que já foi bastante acentuado e que retornou hoje foi: a Nova Evangelização deve começar pela conversão dos Bispos, dos Sacerdotes, dos Religiosos... e nessa linha se coloca a revalorização do Sacramento da Penitência e a renovação da vida espiritual.

 Bispos do Leste Europeu (ex países comunistas), mas também de outras partes, insistiram que o guardião da fé em muitos lugares é a família, principalmente em época de perseguição ou de "desertificação espiritual", como afirmou ontem Bento XV. Alguns apresentaram experiências em que toda paróquia gira em torno da Pastoral Familiar e a evangelização, ou início de evangelização, se faz pela Pastoral da Visitação, às vezes de porta em porta. Bispos da África, como também da América Latina, sublinharam e defenderam muito as pequenas comunidades, com meio de sustentar a fé do nosso povo.

 Sobre elementos que caracterizam o sacerdócio ministerial estão: seu lugar específico na Igreja, sua origem sobrenatural e sacramental e sua ligação essencial com a Eucaristia; o celibato, por sua vez, está ligado à identidade cristológica e possui um grande valor de testemunho.

 Outro tema que nos dias passados, como hoje também aflorou com ênfase, foi o diálogo intercultural e interreligioso. Isso interessa muito às jovens igrejas da Ásia e África, que vivem num ambiente hostil, por vezes de martírio, e encontram no diálogo interreligioso, como minoria, um meio de ter espaço na sociedade e poder afirmar a própria fé. Já fiz referência às grandes dificuldades de minorias cristãs diante do fundamentalismo e fanatismo religioso islâmico. Alguns chegaram a dizer que nem aqui, num ambiente extremamente seguro e fraterno, longe daqueles territórios de perseguição, eles têm coragem de falar a verdade como ela é; temem a represália.

 Mas também o diálogo ecumênico não é fácil. Em parte nós sentimos isso com igrejas cristãs que professam a mesma fé aqui no ocidente. Mas, no oriente o confronte com a igreja ortodoxa é também, em muitos casos, extremamente difícil. Um bispo da Romênia me dizia, por exemplo, que já há ortodoxos que negam poder rezar juntos o mesmo Pai Nosso...

 O Bispo Salesiano, Dom Enrique Covolo, que esteve no Centro Unisal Pio XI (São Paulo) no mês de julho, desenvolveu o tema da evangelização nas Escolas e Universidades. Além da secularização do ensino básico, médio e superior, a tendência dos estados modernos é de domesticar também as universidades católicas, submetendo-as ao rigor e controle das leis acadêmicas, privando tais institutos da liberdade que sempre tiveram; e denunciou o perigo que temos de, em vista de obter um título civil, renunciarmos a currículos específicos de nossa formação católica ou mesmo à influência do evangelho na cultura acadêmica.

 O problema da linguagem na evangelização voltou com a intervenção de dom Gianfranco Ravasi. A nova evangelização precisa adotar os novos cânones da comunicação telemática e digital, e aprender dela a essencialidade, a brevidade e o recurso à imagem. Elogiou a iniciativa do "Pátio dos Gentios" promovido por Bento XVI. Fez referência ao mundo da arte, da cultura juvenil, das ciências e da técnica. "Não devemos ter medo de penetrar o mundo da ciência e da técnica, com o olhar sempre em Jesus que contemplava o mundo vegetal e animal e recorria até às previsões meteorológicas (cf Mt 16, 2-3) para anunciar o Reino de Deus".

 O Pe. Pascual Chávez, Superior Geral dos Salesianos, cuja fala já havia sido anunciada ontem, intitulou-a assim: "Vinde e vede: a urgência de encaminhar e favorecer uma cultura vocacional na Igreja". Chamou a atenção para a centralidade das vocações no projeto da Nova Evangelização, pois são dois elementos inseparáveis. Mais do que "vocação", devemos cultivar uma cultura vocacional, isto é, "um modo de afrontar e conceber a vida como dom recebido gratuitamente de Deus para um projeto ou uma missão conforme o seu desígnio". Nesse contexto é que se deve propor aos jovens os diversos caminhos vocacionais: matrimônio, vida religiosa ou consagrada, serviço sacerdotal, empenho social e eclesial, e acompanhá-los no trabalho de discernimento e de escolha.

 Pe. Pascual sugeriu que o Sínodo ajude todos os pastores a serem verdadeiros guias espirituais para os jovens. Propôs, ao final, quatro linhas de ação: 1. Favorecer um ambiente ou cultura em que a vocação do jovem possa germinar e desenvolver-se; 2. Acompanhamento espiritual; 3. Intenso amor pela Igreja e 4. Educar para a oração pessoal.

 Nessa grande "chuva de idéias" durante essa primeira, muitos outros temas foram abordados e aprofundados. Há uma sensação de que o Sínodo está um pouco disperso e genérico em sua impostação. Mas o pessoal que tem experiência de outros Sínodos (há gente aqui que já participou de 6....), diz que isso é normal na primeira semana. As coisas começarão a afunilarem a partir da 2a. metade, ou seja, na metade da próxima semana!

 A grande novidade do dia foi o almoço oferecido para todos (umas 400 pessoas!) pelo Papa Bento XVI. Na primeira parte da grande Sala Paulo VI (aquela das audiências gerais das 4as. feiras, que comporta milhares de fiéis) as cadeiras foram tiradas e montadas umas 50 mesas, além da grande mesa central para o Papa e os convidados mais especiais.

 Nós brasileiros (os cinco bispos e mais três participantes) fizemos uma mesa onde, além da refeição caprichada que nos foi servida, partilhamos muito nossos pontos de vista sobre o Sínodo, assim como a vida da Igreja no Brasil. Na mesa do Papa, além de cardeais, estavam dois ilustres visitantes que já haviam falado para os padre sinodais: o patriarca ortodoxo de Constantinopla, sua Beatitude Bartolomeu I e o Arcebispo Anglicano de Cantuária, sua Graça R. D. Williams. Como curiosidade, foi um banquete de 6 talheres e 4 taças. Naturalmente o tom das conversas estavam bem mais alto no final, do que no início...

 O dia foi concluído com a palestra de 45 minutos de um prêmio Nobel de Medicina em 1978 (Microbiologia), Prof. Werner Arber, da University of Basel (Suíça) e Presidente da Pontifícia Academia de Ciências da Santa Sé. É o primeiro não católico a ocupar esse cargo (ele é protestante). Assim intitulou sua palestra em inglês: "Contemplation on the Relations between Science na Faith". Em linguagem mais técnica do que teológica, como é próprio do tema, ele apresentou as relações entre ciência e fé, acentuando a compatibilidade entre o conhecimento científico e o conteúdo essencial da fé. Seguiu-se um pequeno diálogo entre o ilustre palestrante e a Assembleia.

Roma, 12 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

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Notícias do Sínodo dos Bispos 05 - Pe. Lima
 CONCÍLIO VATICANO II: 50 ANOS

 Há 50 anos inaugurava-se o Concílio Vaticano II. Todos participantes do Sínodo fomos para a soleníssima Missa presidida por Bento XVI em ação de graças por esse magno acontecimento. A ele se uniu também a celebração dos 20 anos do Catecismo da Igreja Católica e, sobretudo, a abertura do Ano da Fé. A grandeza, beleza e solenidade da liturgia este à altura desses acontecimentos.

 Mais uma vez essas grande cerimônias foram realizadas na Praça São Pedro, debaixo de um sol escaldante e na presença de uma multidão de fieis (maioria religiosos) que acompanhou piedosamente. Como na celebração de abertura, destacavam-se os bispos e padres dos ritos católicos orientais com suas vestes esplendentes, o coral da capela sistina (foi cantada a Missa de Angelis e muita polifonia). Além dos 250 bispos que participam do Sínodo, concelebravam também os presidentes das conferências episcopais dos vários países. Estiveram presentes, mas não concelebrando, pois não são católicos, Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla, Ortodoxo, e Sua Graça Rowan D. Williams, Arcebispo de Cantuária, Anglicano, que ontem discursou na Aula Sinodal. Também estavam alguns dos 38 bispos ainda vivos, que participaram do Vaticano II, inclusive o Papa.

 Deu-se grande destaque ao livro da Palavra de Deus, que estava ao lado e na frente do altar, num riquíssimo ambão, que tinha sobre si o mesmo Evangeliário usado há 50 anos atrás. Bento XVI começou sua homilia dizendo: "hoje, com grande alegria, 50 anos depois da abertura do Concílio Vaticano II, damos início ao Ano da fé". E continuou: "O Concílio Vaticano II não quis colocar a fé como tema de um documento específico. No entanto, o Concílio esteve inteiramente animado pela consciência e pelo desejo de ter que, por assim dizer, imergir mais uma vez no mistério cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem contemporâneo". Evocou em seguida a figura do Bem-Aventurado João XXIII, suas intuições ao convocar o Concílio e suas finalidades. Referiu-se ao "avanço de uma desertificação espiritual desses últimos decênios". Mas é precisamente a partir dessa experiência de deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer e sua importância para nós.

 Após a oração final, o Papa foi saudado pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, que se referiu aos esforços feitos em vista do ecumenismo a partir do Vaticano II aos nossos dias. Também houve leitura de trechos da Mensagem do Concílio ao Povo de Deus: governantes, pensadores e cientistas, artistas, mulheres, trabalhadores, pobres, doentes, todos que sofrem e jovens. Representantes dessas várias categorias subiam até o Papa e recebiam o texto integral da Mensagem, distribuída também a alguns da assembleia.

 À tarde deste dia, cinquentenário do Concílio, houve a 6a. Congregação Geral do Sínodo, começando pela eleição do grupo que irá redigir a Mensagem Final do Sínodo. A eleição foi por continentes. Em seguida, ouvimos mais 15 discursos, de 5 minutos cada, de oradores inscritos; seguiram-se debate livre e restrito a intervenções de 4 minutos. Várias experiências de nova evangelização foram apresentadas, assim como sugestões, como, por exemplo, evangelizar o Direito Civil (supõe-se que o Direito Canônico esteja evangelizado, brincou o orador), uma vez que a base do Direito hoje não é a pessoa humana, mas interpretações subjetivas e ideológicas, como é o caso do matrimônio gay.

 O dia terminou com uma fiacolata, isto é, uma procissão de velas acessas, na Praça de São Pedro, recordando aquela que há 50 anos foi feita no mesmo lugar, em vista do início do Vaticano II. Ao final, como há 50 anos, também Bento XVI apareceu na janela de seu apartamento, saudou a multidão que o aclamava aos gritos, com é próprio dessas ocasiões. Fez pequeno discurso evocando esses acontecimentos e a figura de João XXIII. Disse que estava nessa praça naquele dia. Falou que o Concílio foi um grande dom de Deus, um novo Pentecostes. Hoje, como há 50 anos, ele suscitou uma imensa alegria. Hoje, porém, tal alegria é mais modesta, mais humilde... porque o pecado original existe e arma ciladas continuamente à Igreja (falou dos escândalos, divisões, abandono da fé de muitos...), mas também o Concílio renovou a Igreja, particularmente na Liturgia, no esforço Ecumênico, no aggiornamento como dizia João XXIII. Terminou com a bênção e despedida.

 Foi um dia de grandes celebrações e carregado de emoções. Recordei-me também que, nesse dia, em 1962, eu era estudante de filosofia em Lorena, e nos reunimos uns 200 seminaristas no Santuário de Aparecida, num Encontro de Seminaristas do Vale (ESVA), para celebrar a abertura do Concílio. O clima era de extremo otimismo e de grande esperança no futuro. Passaram-se 50 anos e hoje, só posso agradecer a Deus, que me deu a graça de viver não só o Concílio Vaticano II durante a segunda fase de minha formação, mas sobretudo o Pós-Concílio que gerou grandes renovações, mas ao mesmo tempo crises impressionantes que, nem sempre bem resolvidas, deixaram rastros negativos.

 Tal esperança agora renasce e se fortifica, celebrando aqui em Roma esse cinquentenário e ao mesmo tempo participando do Sínodo sobre a Nova Evangelização. E como toda minha vida foi e ainda está sendo dedicada à catequese, ao lado dessas comemorações tão importantes, tenho a graça de celebrar também os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica, um dos grandes frutos do Vaticano II.

Roma, 11 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

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Notícias do Sínodo dos Bispos 04 - Pe. Lima
 REUNIÕES EM GRUPOS MENORES E PRESENÇA DE BISPO ANGLICANO

 Hoje, 10 de Outubro, o dia foi um pouco diferente dos dias anteriores. De fato, logo de manhã em vez de nos dirigir para a grande sala do Plenário do Sínodo, que aqui é chamada de Aula Sinodale, fomos para salas menores, no mesmo ambiente do enorme edifício Paulo VI. Conforme programado, todos os quase 400 participantes fomos divididos em grandes grupos, chamados Circuli Minori, usando como critério de divisão, as cinco línguas oficiais. Assim, eu fui designado para assessorar o Circulus Hispanicus A (havia um B e um C); portanto três grandes grupos de língua espanhola. Preferi esse grupo, ao dos italianos, por estar mais perto da América Latina. Nele somos cerca de 30, bastante exprimidos numa sala um tanto acanhada prá tanta gente. Nesse grupo está também o espanhol Francisco (Kiko) Argüello, fundador do neo-catecumenato!

 Nesse grupo, a grande maioria era dos países da América Latina, mas havia também espanhóis, portugueses, timorenses e angolanos (esses últimos falam português). A primeira coisa a ser feita foi a eleição do Moderador (aquele que coordena) e saiu eleito o Arcebispo Carlos Aguiar Retes, Presidente da Conferência Episcopal Mexicana, e Relator: o Arcebispo de Valladolid (Espanha), D. Ricardo Blázquez Peres. Dom Odilo (que está nesse grupo, junto com Dom Geraldo Lyrio) recebeu vários votos, mas não o suficiente para ser eleito.

 Após essas formalidades, e mesmo depois do intervalo, houve um amplo espaço, que ocupou toda manhã, para um debate sobre o tema do Sínodo, particularmente sobre o Instrumento de Trabalho. A discussão ficou um pouco polarizada em torno do conceito de Nova Evangelização. De fato, não há uma compreensão única sobre tal expressão. O mesmo Bem-aventurado João Paulo II que a criou, entendeu-a de diversas maneiras ao longo de seu pontificado.

 O que em geral foi rejeitado por todos é que tal expressão signifique toda a pastoral da Igreja... ou seja: cada um entende como quer, colocando tudo quanto é assunto debaixo desse guarda-chuva e... enfim, tudo fica como antes, sem mudar nada... Seria uma maneira de fugir do problema e seus desafios. De aí também evitar que se crie mais um slogan que todo mundo repete, mas sem nenhum conteúdo.

 Alguns veem a Nova Evangelização como uma proposta para enfrentar a descristianização de antigas cristandades, como é o caso dramático da Europa. Outros, como uma espécie de diálogo para encarar o mundo hostil contra a presença pública da Igreja na Sociedade (o que acontece até na ONU...). Não poucos a veem como projeto da Igreja para recuperar o prestígio perdido pelo desaparecimento da cristandade...

 Muitos identificam a Nova Evangelização com o projeto que nasce dos documentos de Aparecida de uma Igreja missionária, que busca gerar e formar discípulos missionários. Outros sugeriram que se busquem as razões pelas quais estamos falando agora de Nova Evangelização. Uma intervenção sugeriu que se aprofundassem os fundamentos antropológicos, teológicos, eclesiológicos e bíblicos dessa proposta da Igreja... pois ela não pode continuar dando respostas para perguntas que ninguém faz... quais seriam mesmo as questões às quais a Nova Evangelização quer responder?

 Nesse último sentido, alguns, entre eles Dom Odilo, criticaram a falta de um status questionis ou seja, uma espécie de ver a realidade concreta, esclarecer por que estamos aqui falando desse assunto? (falou da nossa prática latino-americana de, sempre, partir da realidade). O que nos leva a nos preocupar com uma Nova Evangelização? Bispos de países de recentíssima evangelização, como o Timor-Leste, afirmaram: "Nós nem ainda acabamos de realizar uma verdadeira evangelização entre o nosso povo, e por que já temos que pensar numa nova? Que novidade é essa, com relação com o que já estamos a duras penas fazendo?

 Houve quem defendesse a ideia de que Jesus Cristo e seu Evangelho são sempre novos, sempre trazem uma novidade para a humanidade, seja em que tempo for... precisaríamos explorar mais a etimologia da palavra Evangelho, evangelização. Por outro lado, uma Nova Evangelização requer novos evangelizadores... mas assim falando corremos o perigo de desvalorizar os milhões de cristãos que atualmente dão a vida pela Igreja trabalhando com projetos de pastoral tradicionais... não seria melhor falar de evangelizadores renovados?

 Para enfrentar os desafios da evangelização do mundo moderno técnico-científico, é necessário muita formação... sem tal preparação intelectual acurada dos evangelizadores, eles não nos ouvirão... Dom Geraldo Lyrio acentuou a dimensão comunitário-eclesial, para se evitar individualismos, ou compreensões de Jesus e de seu Evangelho, muito conforme a imagem e semelhança de cada um... ou de cada igreja...

 Muitos chamaram a atenção para a coerência de vida, para o testemunho, para o aprofundamento da fé pessoal de cada cristão; isso mesmo já se torna o primeiro passo para uma Nova Evangelização. A maioria dos que se afastam da Igreja não é por motivo dogmático ou de rigidez de disciplina... mas por questões de relações humanas, falta de acolhimento, de atualização de certas coisas que seriam tão fácil mudar.... Alguém sugeriu até fazer um "inventário" da Igreja para ver em que falhamos.... por que as pessoas se afastam?

 Muito apreciada foi a intervenção de Dom Cláudio Celli, encarregado da Comunicação da Igreja, apresentando algumas inquietações: não dar a idéia da Igreja como uma grande empresa que está perdendo vendas e faz então um novo esforço para aumentá-las. Há gente que vê a Igreja como atingida por um tutsunami e agora se põe a pensar como reconstruir-se... em que medida realmente estamos buscando o Reino de Deus? Ou será outra coisa que muito bispo, padre ou religioso está buscando? Outra inquietude: o Instrumento de Trabalho não tocou o problema da Comunicação! Não se trata de ter grandes recursos midiáticos, potentes meios de comunicação... trata-se da linguagem, da cultura (cultura midiática!)... Estamos tratando com pessoas que já possuem outra linguagem, outra cultura... ao passo que nossa linguagem e cultura continuam as mesmas... infelizmente.

 Sem dúvida, muitos intervieram falando de vida transformada, da conversão contínua ao Evangelho, do agente principal da Nova Evangelização que é o Espírito Santo, da importância do encontro com a pessoa de Jesus, da necessidade de reforçar o ato de fé mais do que compreensões doutrinais (embora elas também sejam necessárias...), de nós mesmos sermos evangelizados, da opção pelos pobres, etc.

 Como se vê, Nova Evangelização não é um conceito unívoco, mas equívoco... e ainda não há clareza do que, precisamente, tal expressão quer dizer no conjunto de toda a vida da Igreja, particularmente após o Vaticano II, cujo 50 anos amanhã vamos celebrar...

 Na parte da tarde, houve mais de 15 discursos, na mesma modalidade de ontem (cinco minutos para cada um) e se falou muita coisa interessante. Espero que os textos, em geral em castelhano, continuem no site já indicado: http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog - Aqui destaco apenas as intervenções de dois brasileiros: Dom Sérgio Rocha, Arcebispo de Brasília, falou do ministério do catequista, dando importância ao maior reconhecimento do trabalho de nossos abnegados catequistas, inclusive proporcionando, em toda a Igreja, aquilo que no Brasil já se faz: que seja um ministério reconhecido, sem muita burocratização, nem querendo transformar os catequistas em clérigos ou dependentes de uma missio canonica por demais jurídica, o que se transformaria, por parte da hierarquia, em controle e domesticação de um carisma que, por ser de natureza prevalentemente leiga, goza de suficiente autonomia para seu exercício.

 Sua intervenção, a meu ver bastante inspirada, se intitulou: "Sujeitos da transmissão da fé: os catequistas". Assim ele concluiu: "o conferimento de tal ministério não deverá comportar uma clericalização ou elitização dos fieis leigos, conservando sempre o seu caráter de serviço eclesial. Como também não deverá ser entendido como um ministério em substituição ou contraposição ao ministério ordenado, pois, sendo um autêntico serviço eclesial, ele deverá ser concebido e vivido em comunhão. Enfim, o reconhecimento e a configuração do "ministério de catequista" poderá representar um grande sustento e estímulo para aqueles que assumem com generosa dedicação o serviço da catequese. Ajudará os fieis a reconhecerem melhor o seu serviço e exigirá um renovado empenho na formação integral dos catequistas.

 Bom, ainda teríamos que falar de um dos pontos altos do dia que foi a apresentação e discurso, diante do Papa, do Anglicano R. Douglas Willians, arcebispo de Cantuária e primaz da Inglaterra... que foi muito interessante. Mas iria muito longe, e já passei do limite, por hoje.

 Amanhã, tratando das celebrações dos cinquenta anos do Concílio Vaticano II e da Abertura do Ano da fé, terei oportunidade de voltar a esse assunto.

Roma, 10 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb
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Notícias do Sínodo dos Bispos 03 - Pe. Lima
QUASE 50 DISCURSOS NUM DIA...

 Conforme a programação do Sínodo, este terceiro e parte do quarto dia são destinados aos comentários a respeito do documento Instrumento de Trabalho. De fato, a finalidade deste texto, é recolher toda a discussão feita anteriormente, através de consulta às Conferências Episcopais, e levantar alguns problemas relacionados ao tema central.

 Foi o que aconteceu hoje quando, cerca de cinquenta oradores (cardeais, arcebispos e bispos) se inscreveram para comentar algum aspecto do Instrumento de Trabalho. Cada um tinha cinco minutos para falar, usando uma das 5 línguas oficiais, e todos, na Assembléia, acompanhavam com o texto do pronunciamento em mãos e tradução simultânea, para quem desejasse. Cada orador tinha apenas 5 minutos para falar, após os quais o microfone era desligado...

 Ficar ouvindo tantos oradores e em cinco línguas diferentes, é um trabalho muito cansativo. Mas o próprio Regulamento do Sínodo assim se expressa: "pode parecer enfadonho ter que escutar em vários dias tantos discursos. Mas, na realidade, trata-se de uma escuta muito útil para alimentar a colaboração e a amizade entre todos, para obter, da variedade de falas, os elementos comuns, os problemas mais importantes e as questões que mais preocupam os responsáveis pela Evangelização em todo o mundo. O trabalho em comum exige paciência" (Art. 38 d).

 Antes de começar o debate, houve a constatação da presença, uma espécie de "chamada", mas num sistema eletrônico super prático e rápido. Constatou-se que estavam presentes 255 "Padres Sinodais". Nesse número não estão os outros mais de 150 participantes considerados peritos ou secretários, os ouvintes, os convidados especiais e todo o pessoal auxiliar e técnico.

 Um dos primeiros a falar foi o Card. Rino Fisichella, presidente da Congregação para a Nova Evangelização, recentemente fundada pelo Papa Bento XVI. Ele denunciou o modo de viver de muitos católicos que não expressam a novidade do Evangelho, às vezes um modo burocratizado de viver a fé e os sacramentos; "muitas comunidades parecem cansadas, repetindo fórmulas sem sentido que não comunicam a alegria do encontro com Cristo e estão em dúvida a respeito do caminho cristão a ser percorrido... Devemos redescobrir a força do anúncio de Cristo Ressuscitado do qual somos testemunhas, sem deixar-nos sufocar pelas estruturas".

 Houve uma variedade de propostas: muitos insistiram no valor da humildade, para que o anúncio do Evangelho seja eficaz: "nova evangelização exige nova humildade"; outro falou da importância do Espírito Santo na obra evangelizadora e propôs consagrar o mundo o mundo a Ele no final do Ano da Fé. Houve quem chamou a família de "fronteira decisiva da Nova Evangelização", ou reduziu a evangelização quase como uma formação permanente... Outro chamou a atenção para a "emergência educativa", afirmando: "não podemos evangelizar se não educamos e não educamos se não evangelizamos".

 Alguns apresentaram experiências eficazes de evangelização, como o acompanhamento espiritual das mães grávidas, também como preparação para o futuro batismo da criança, a distribuição abundante da Bíblia, ou partes dela, a êxito da pastoral da entronização da Bíblia nas casas dos fiéis e posterior acompanhamento, a riqueza da Leitura Orante da Palavra de Deus, etc.
 Seguindo uma tendência em várias partes da Igreja, um orador pediu que a Igreja Romana seguisse o exemplo da Igreja Oriental Católica, que celebra o sacramento do Batismo juntamente com a Confirmação, deixando a Eucaristia para o ápice e a conclusão do processo de iniciação à cristã, numa idade bem mais avançada (após os 15 anos), quando a/o jovem está mais apto/a para receber tão grande Sacramento.

 O tema da iniciação à vida cristã e necessidade do primeiro anúncio foi muito defendida por um bispo mexicano, que já foi o encarregado da catequese na América Latina. Entre os convidados para o Sínodo está o fundador das Escolas de Santo André, de grande êxito no México e em outras parte da América Latina, inclusive no Brasil. Tal escola se dedica a formar novos evangelizadores, preocupando-se sobretudo com o primeiro anúncio.

 Outros assuntos tratados, entre tantos, foram: a centralidade da Pessoa de Jesus Cristo na Evangelização e o encontro pessoal com Ele, a força evangelizadora da devoção a Nossa Senhora, e, em geral, da religiosidade popular, as necessidades antropológicas às quais a Evangelização deve responder, a necessidade de dinamizar a vida das Paróquias, a urgência de renovar a formação presbiteral para termos bons evangelizadores na Igreja. Acentuou-se também a necessidade, para aqueles que anunciam a Palavra de Deus, de fazerem ressoar na própria vida a Palavra que pregam aos outros, particularmente os religiosos e sacerdotes: primeiro viver a Palavra, para depois pregá-la.

 Entre os oradores, apresentou-se um representante da Federação Luterano Mundial, elogiando essa iniciativa do Sínodo em se debruçar sobre o tema da nova evangelização e afirmando o grande valor do Catecismo da Igreja Católica que, segundo ele, se aproxima muito daquele de Lutero... Outro visitante ou convidado fraterno foi o presidente da Sociedade Bíblica Internacional que muito se alegrou com a Verbum Domini (documento do Sínodo anterior sobre a Palavra de Deus). Entre esses convidados fraternos está também o representante das célebres Comunidades de Taizé, de raiz luterana, mas muito próximos da Igreja Católica e que atraem muitos jovens.

 O último discurso do dia foi do Card. Ouelet, que durante 35 minutos falou da recepção e dos efeitos que tiveram em toda a Igreja a exortação apostólica sobre a Verbum Domini do Sínodo anterior. Mostrou que a nova evangelização tem como primeiro instrumento a Palavra de Deus vivida pelos cristãos que devem dar testemunho dela na própria vida e também a própria Palavra de Deus nas Escrituras. O tema da nova evangelização é uma consequência lógica do tema da Palavra de Deus.

 O dia terminou com um pré-lançamento de um grande filme-documentário sobre o Concílio Vaticano II com imagens inéditas de cinquenta anos atrás, que foi muito aplaudido pelos participantes do Sínodo. Tal filme, a ser lançado oficialmente no dia 11 de Outubro, em que se celebram os 50 anos do Concílio, será muito útil para aqueles que não têm nenhum conhecimento, ou conhecimento apenas teórico, desse que foi o maior evento da Igreja Católica no século XX, e talvez, de toda a bimilenar história da Igreja.

 Os quase 50 discursos acima acenados encontram-se na internet, no mesmo endereço que ontem aqui deixei:  http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog

Roma, 09 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

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Notícias do Sínodo dos Bispos 02 - Pe. Lima
PRIMEIRA E SEGUNDA SESSÕES
  
Hoje, 08 de Outubro, pela manhã realizaram-se as 2 primeiras sessões. Teve início com a récita da Hora Média (Tercia), cujo hino foi substituído pelo Veni Creator Spiritus, cantado em gregoriano pela Assembleia, acompanhado por coral a 4 vozes. Pode parecer estranho, mas é o único momento de oração em comum durante o Sínodo, pois a Missa e demais orações (laudes e vésperas) são rezadas nas casas onde cada um se hospeda. A Santa Eucaristia foi concelebrada por todos participantes do Sínodo somente ontem na Abertura; uma outra será no dia 11 comemorando os 50 anos do Concílio Vaticano II e os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica, e uma última no encerramento. Também as refeições, exceto o cafezinho (abundantíssimo...) da manhã e da tarde, são feitas também nas residências de cada um.
Após a leitura breve da Tercia, Bento XVI, que preside as sessões, fez uma bela homilia, falando ex abundantia cordis, ou seja, improvisamente e sem nenhum texto em mãos. Durante 15 minutos falou do significado da palavra evangelização e evangelizar na cultura antiga e no Novo Testamento, e principalmente em São Lucas que anunciando o nascimento de Jesus, descreve-o como o nascimento do verdadeiro imperador que vem trazer uma Boa Nova de Salvação, de Redenção; é a presença de Deus no hoje de nossa vida.

Para ilustrar como essa Boa Nova pode ser anunciada aos homens de hoje, recorreu ao hino da hora tercia "Nunc, sancte, nobis, Spiritus, unum Patri cum Filio....". A Igreja não começou com uma reunião, concílio ou sínodo... mas com Pentecostes, com a ação do Espírito Santo, e não haverá Nova Evangelização sem um novo Pentecostes. Deus continua falando aos homens hoje, e nós somos apenas colaboradores: é uma ação teândrica (de Deus e dos homens). A segunda estrofe desse hino fala em confissão da fé e não simples profissão de fé. A confissão de fé implica nosso envolvimento, nosso testemunho, disponibilidade. Ela deve estar, como diz o hino, em nossa boca, língua, mente, sentidos, vigor... ou seja, a fé deve ser confessada na vida plenamente: além do coração, deve passar também pela mente, ser iluminada pela inteligência (mens.... teologia). Os santos padres diziam que a fé, a Palavra de Deus pode ser saboreada até pelos sentidos (sensus, vigor).

A outra coluna da evangelização é o amor (cáritas)... o hino fala de fogo, paixão. O próprio Jesus disse que veio trazer fogo à terra: a fé é chama de amor que acende todo nosso ser para comunicá-la aos outros. A realidade e o símbolo do fogo aparecem em todas as culturas. Lucas fala do fogo de Pentecostes: é o Espírito que aquece e faz entender todas as coisas. Ao final o hino de tercia pede que esse fogo do Espírito que arde em nossa fé torne-se visível ao mundo... Não haverá evangelização sem esse fogo do Espírito que arde no coração de cada evangelizador.

Houve, a seguir, uma saudação ao Papa pelo Presidente Delegado do dia, Card. John Tong Hon, Bispo de Hong Kong (China) que falou em latim. Aliás, todas as grandes conferências desse dia foram em latim (sempre com tradução simultânea), e isso foi criticado por muita gente, pois pouquíssimos, mesmo na cúpula da Igreja, estão habituados a essa língua oficial da Igreja, fora das orações tradicionais... O cardeal chinês relatou experiências de nova evangelização em Hong Kong, a partir das três categorias do Novo Testamento: didaqué, koinonia e diakonia.´

Seguiu-se a primeira relação (primeira grande conferência), pelo Secretário Geral do Sínodo, Dom Nicola Etérovic. Em primeiro lugar, apresentou os números oficiais dos participantes do Sínodo: 182 padres sinodais, dos quais 172 eleitos pelas Conferências Episcopais e 10 pela União dos Superiores Gerais. Dos outros, 40 foram eleitos pelo Papa, 37 participam ex officio (possuem cargos na Cúria Romana) e 3 designados pelas Igrejas Católicas Orientais. De todos esses, 6 são patriarcas, 49 cardeais, 3 arcebispos maiores, 71 arcebispos, 120 bispos e 14 sacerdotes. Fazem parte também do Sínodo: 20 delegados fraternos representantes de igrejas e comunidades eclesiais que partilham conosco, católicos, as preocupações pela Evangelização. Compõem ainda o Sínodo: 45 especialistas e consultores, 49 ouvintes (mulheres e homens) e um inúmero batalhão de assistentes, técnicos, tradutores e colaboradores da Secretaria Geral. A seguir, falou das atividades da Secretaria Geral, principalmente na preparação dessa XIII Assembleia (redação dos Lineamenta e do Instrumento de Trabalho).

Na segunda parte da manhã, o Relator Geral do Sínodo, Card. Donald William Wuerl, arcebispo de Washington, apresenta a Relação antes das discussões, ilustrando o tema do Sínodo. Desenvolve esses pontos: 1) O quê e Quem proclamamos: a Palavra de Deus; 2) Recursos recentes para ajudar-nos nessa tarefa; 3) Circunstâncias especiais do nosso tempo que justificam esse Sínodo; 4) Elementos da Nova Evangelização; 5) Fundamentos Teológicos da Nova Evangelização; 6) Qualidades dos novos  Evangelizadores e 7) Carismas da Igreja hoje requeridos no exercício da Nova Evangelização.

Após o almoço, foi feita uma reunião com os secretários e distribuidos os trabalhos que cada um deve fazer; a mim foi confiado o tema do "ministério da catequese e sua possível institucionalização na Igreja", tema que o Instrumento de Trabalho pede para ser discutido no Sínodo. Na parte da tarde, cinco palestrantes, durante 10 ou 15 minutos, usando uma das cinco línguas oficiais (italiano, francês, espanhol, alemão e inglês) falaram da situação da evangelização em cada um dos cinco continentes.
  
Chamou a atenção a palestra do Card. Péter Erdö sobre a Europa: relevou a "perda da memória da herança cristã" nesse continente, com a consequente descristianização galopante, seguida de hostilidade e de violência contra os cristãos em quase todos os países! Referiu-se aos "direitos humanos de terceira e quarta geração... que já não possuem laços com a visão humana e cristã do mundo nem com a moralidade objetiva expressa nas categorias do direito natural". Por outro lado, tal situação de crise religiosa unida à crise econômica e ao envelhecimento da população, faz surgir uma "fome e sede de esperança" às quais o cristianismo pode dar grandes respostas.

Pelo Continente Americano falou o Arcebispo Dom Carlos Aguiar Retes (Chile), desenvolvendo esses temas: 1) O grande desafio: mudança de época e ruptura cultural; 2) Nova Evangelização exige comunhão eclesial; 3) Um caminho incipiente e cheio de esperança na América após o Concílio (de Medellín a Aparecida); 4) Os protagonistas da Nova Evangelização (destaque para os leigos e a família); 5) Pontos cardeais da Nova Evangelização: conversão pastoral e mudança de mentalidade, vivência litúrgica e pastoral orgânica de participação e comunhão. Conclui dando relevância ao Catecismo da Igreja Católica e Compêndio da Doutrina Social da Igreja, à vida de discípulos e aos programas e processos de formação cristã, sobretudo catequese, através de caminhos mistagógicos.

A última hora do dia foi reservada a intervenções livres. Sobressaíram os representantes do Oriente Médio e da África falando do sofrimento dos cristãos nessas regiões, sobretudo devido ao fundamentalismo e fanatismo islâmico hostil ao cristianismo, o que não poucas vezes gera martírio. O Cardeal de São Paulo, Dom Odilo, falou da experiência de fé dos católicos de São Paulo em celebrar a procissão de Corpus Christi mesmo num dos dias mais frios do ano e debaixo de intermitente chuva. Tal ato de fé do Povo de Deus reforça também a fé dos pastores; de fato, ele havia pensado em cancelar a procissão, mas devido à maciça presença dos fiéis, foi mantida e realizada conforme a programação.

Os que atenderam a impressa, relaram o grande interesse da mídia, ao menos no início, pelo Sínodo. Não só, mas uma pergunta insistente, era: "como a Igreja reage diante de uma sociedade cada vez mais secularizada e o que fará para reverter esse quadro, o que a Igreja irá fazer para responder à sede de valores que muitos hoje demonstram, o que fará para dar resposta aos problemas humanos, aos jovens desorientados; quais são as soluções para reconciliar populações inimigas para evitar a guerra, quais são os grandes projetos em favor da paz...". Ou seja: parece que os próprios jornalistas estavam traçando a pauta do Sínodo. Sob esse ponto de vista, a conference press foi um sucesso!

A oração do Angelus entoada pelo Papa, que participou o tempo todo, sempre atento e tomando notas, e o canto do Salve Regina concluíram esse dia de intenso trabalho sinodal.
Apesar das recomendações sobre o segredo a respeito do que se trata no Sínodo, quase todo o material aqui veiculado, em poucas horas podem ser encontrados na Internet. Assim, quem estiver interessado, poderá acessar o site a seguir, onde encontrará todos os textos em castelhano, com fotos dos palestrantes e muitas outras informações: http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog

Roma, 08 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

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